MULHER
Metade
mulher metade pássaro
Metade
anémona metade névoa
Metade
água metade mágoa
Metade
manhã metade fogo
Metade
jade metade tarde
Metade
mulher metade sonho
Jorge
Sousa Braga, O Poeta Nu
CONTRIBUTO PARA AS ESTATÍSTICAS
Em
cem pessoas,
cinquenta
e duas;
inseguras
a cada passo -
quase
todo o resto;
prontas
para ajudar,
desde
que não demore muito -
quarenta
e nove;
sempre
boas,
porque
não conseguem de outra forma -
quatro,
talvez cinco;
dispostas
a admirar sem inveja -
dezoito;
constantemente
receosas
de
algo ou alguém -
setenta
e sete;
aptas
para a felicidade -
vinte
e tal, quando muito;
Individualmente
inofensivas,
em
grupo ameaçadoras -
mais
de metade, com certeza;
cruéis,
por
força das circunstâncias -
é
melhor não sabê-lo,
nem
aproximadamente;
com
trancas na porta depois da casa roubada -
quase
tantas como
aquelas
que as têm, antes da casa roubada;
não
levando nada da vida a não ser coisas -
quarenta,
embora
preferisse estar enganada;
agachadas,
doloridas,
e
sem lanterna no escuro -
oitenta
e três,
mais
tarde ou mais cedo;
dignas
de compaixão -
noventa
e nove;
mortais
-
cem
em cem.
Número,
até agora, não sujeito a alterações.
Wislawa
Szymborska, Instante
Poetisa
e mulher das letras polaca, venceu o Prémio Nobel da Literatura em 1996.
A UMA BORBOLETA
Não,
espera, fica – aonde vais!
Deixa-me
ver-te um pouco mais,
Conversemos,
que bem me fazes,
A
minha infância toda trazes!
Não
vás; porquê tão apressada?
O
que passou refazes:
Ó
bela criatura alada,
A
forma da família amada
A do
meu pai, me trazes!
Quão
gratos, gratos esses dias,
O
tempo de mil tropelias
Quando
eu e a minha mana ríamos
E
atrás de borboletas íamos!
Aos
saltos, caçador sem susto,
Seguia
o ser de muitas casas,
De
feto aqui, ali arbusto;
Já
ela, Deus a tenha, a custo
Lhes
espanava as asas.
William
Wordsworth, Poemas Escolhidos
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