quarta-feira, 12 de abril de 2017

DIA INTERNACIONAL DO LIVRO INFANTIL

No dia 4 de abril, a nossa hora do conto foi dedicada aos meninos do 1º ano da EB de Freamunde.

Numa sessão diferente, porque uma história não se conta apenas por palavras, mas também pela força sugestiva das imagens, tivemos como convidada a ilustradora Carla Anjos que explicou as várias etapas do seu trabalho, as técnicas utilizadas na criação das ilustrações e a sua importância na narração de uma história.




A Biblioteca ofereceu aos participantes “A sopa da pedra”, o trabalho mais recente da ilustradora, com texto de Miguel Borges. 



Escritor do mês | abril

JOSÉ CARDOSO PIRES
(1925/1998)


José Augusto Neves Cardoso Pires nasce a 2 de outubro de 1925, na aldeia de Peso, no distrito de Castelo Branco, mas vai para Lisboa com poucos meses de idade. Fixa residência naquela cidade, onde morre a 26 de outubro de 1998. É reconhecido como um dos mais importantes escritores portugueses da segunda metade de século XX.

Exerceu várias profissões, entre as quais, redator de uma revista feminina, Eva, em finais dos anos 40. Em 1949, publica o seu primeiro livro, "Os Caminheiros e Outros Contos", retirado de circulação pela censura. Nos princípios dos anos 50, foi detido pela PIDE depois da apreensão do seu livro de contos "Histórias de Amor". Nos anos 60 foi membro da Sociedade Portuguesa de Escritores. Em 1963 publica "Hóspede de Job", livro dedicado ao seu irmão, morto enquanto cumpria o serviço militar nos anos 50, e que lhe valeu o Prémio Camilo Castelo Branco em 1964; e "O Delfim" em 1968, romance geralmente considerado a sua obra-prima. Em inícios dos anos 70, foi professor de Literatura Portuguesa e Brasileira em Inglaterra, no King's College da Universidade de Londres.

Nos anos 80, publica mais dois romances singulares. São Balada da Praia dos Cães (1982), romance que lhe valeu o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores e que foi alvo da realização de um filme, com o mesmo nome, de José Fonseca e Costa, em 1987, e Alexandra Alpha (1987) obra que mereceu o Prémio Especial da Associação de Críticos, de São Paulo, no Brasil. "O primeiro reconstitui, de forma inovadora e plurifacetada, o crime da Praia do Guincho, ocorrido na realidade em 1960, mas perspetivado, neste romance, como fazendo parte de um passado social e político. O segundo é o único, nesta obra, que representa o Portugal pós-1974, vendo nele toda a violência do conflito político e económico dos primeiros tempos da revolução." (Cabral, Eunice, cvc.instituto-camoes.pt)

A sua última obra mais importante é De profundis, Valsa Lenta (1997), relato do acidente vascular cerebral que o atingiu em 1995, que é apresentado pelo autor como uma “viagem à desmemória” e pela qual recebeu dois prémios: Prémio D. Dinis e Prémio da Crítica, atribuído pela Associação Internacional de Críticos Literários. É a única narrativa da sua obra que pode ser considerada autobiográfica.

Recebeu também o Prémio Internacional União Latina (1991), o Astrolábio de Ouro do Prémio Internacional Último Novecento (1992) e o Prémio Pessoa (1997). Em 1998 sofreu outro acidente vascular cerebral, que viria a ser a causa da sua morte. Em setembro desse mesmo ano foi-lhe atribuído o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores.

José Cardoso Pires tem 18 obras publicadas, abrangendo os estilos de crónica, romance, teatro, ensaio, conto, fábula e "memória".

O seu trajeto pessoal e a sua carreira de escritor são marcados pela inquietação e pela deambulação. Não se identifica com nenhum grupo, nem se fixa em nenhum género literário, apesar de ser considerado sobretudo como um romancista. 

A relação mais consistente e duradoura, no campo literário, deu-se com o movimento neorrealista português até ao 25 de Abril de 1974, não por razões estéticas, mas, sobretudo, pela adesão a uma política de resistência ao regime autoritário português. O traço distintivo, que mantém até às últimas obras, é o respeitante ao compromisso da literatura com a realidade sua contemporânea. 


BIBLIOGRAFIA
Os Caminheiros e Outros Contos (1949). Histórias de Amor (1952). O Anjo Ancorado (1958). O Render dos Heróis (1960). Cartilha do Marialva (1960).
Jogos de Azar (1963). O Hóspede de Job (1963). O Delfim (1968). Dinossauro Excelentíssimo (1972). E agora, José? (1977). O Burro-em-Pé (1979). Corpo-Delito na Sala de Espelhos (1980). Balada da Praia dos Cães (1982). Alexandra Alpha (1987). A República dos Corvos (1988). A cavalo no Diabo (1994). De profundis, Valsa Lenta (1997). Lisboa – Livro de Bordo (1997). 

"Baixo a vidraça, mas, ouvindo através dela a balbúrdia da rua, preparo-me para uma noite difícil. Enquanto não adormecer vou pensar certamente no tema «Toda a festa é uma demonstração de poder», e daí sairá um caudal de lembranças nocturnas – Regedor, política, cosmonautas, amor, coisas boas. De raciocínio em raciocínio irei longe, darei voltas para chegar a casa do Engenheiro conquistada pelas lagartixas, que são para mim, o tempo (português) da História. Ficarei um instante parado, à sombra. Descerei o vale por cima de uma cama de fetos, aproximando-me em sonhos da lagoa, com as suas águas tristes, sua solidão, seus segredos... até que ao primeiro tiro da madrugada se levantarão os patos de asa crespa numa esfera de som e de poalha de luz."

PIRES, José Cardoso, O Delfim, 15.ª edição, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1997, 227 p., pp. 168-169


quarta-feira, 5 de abril de 2017

O Leituras sugere...







....para abril 


O Estranhão

ÁLVARO MAGALHÃES


Fred, o Estranhão, é um rapaz de 11 anos, com um Q.I. acima da média, que conta a sua estranha vida (a família, a escola, os amigos, os amores), com palavras e desenhos, enquanto reflete sobre tudo o que o rodeia.
O seu grande desafio é viver uma vida normal, sem sobressaltos, e chega a fingir que é estúpido para não ser incomodado pelos que fingem ser inteligentes. Mas isso não é tarefa fácil para um Estranhão.
Um livro cheio de humor e de peripécias divertidas!
Requisita-o na Biblioteca e, se gostares, há mais títulos desta coleção à tua espera.
Livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura.

Um poema...

Chegam cedo demais, quando ainda não podem escolher 
nem decidir. Vêm carregados de espectros, de memórias
e de feridas que não souberam sarar; mas trazem a confiança
da cura nas palavras. Convencem-se de que amam outra vez

quando nos tocam os pequenos lugares, esquecendo-se do rumo
incerto dos seus passos nas estradas tortuosas que os 
trouxeram. Abafam-se num cobertor de mentiras sem saber e 
falam de injustiça quando tentamos chamá-los à verdade. 

Dormem de vez em quando nas nossas camas e protegemo-los 
da dor como aos filhos que não iremos ter nunca
porque não nos resignamos a perdê-los. E, um dia, partem, vão 

culpados, não chegam a explicar o que os arrasta. Escrevem
cartas mais tarde - uma ou duas para se aliviarem dessa espada.
E nós ficamos, eternamente, sem vergonha, à espera que regressem. 


Maria do Rosário Pedreira, in Poesia Reunida, ed. Quetzal