terça-feira, 24 de novembro de 2015

Sábados na Biblioteca

No dia 28 de novembro, a Biblioteca estará aberta no seu horário habitual: 9h - 12h30 / 13h30 - 15h

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

É tempo de castanhas!

S. Martinho – quadras,  provérbios e castanhas

Comemora-se hoje o dia de S. Martinho, dia dos tradicionais magustos. Deixamos aqui algumas adivinhas, quadras e provérbios sobre este dia. Para saber mais sobre o S. Martinho, 
consulte http://smartinho.blogspot.com/


ADIVINHAS
1
Tenho camisa e casaco
Sem remendo nem buraco
Estoiro como um foguete
Se alguém no lume me mete
2
Se me rio… de mim sai uma donzela
Mais donzela do que eu
Ela vai com quem a leva
Eu fico com quem me deu
3
Qual a coisa qual e ela
Tem três capas de Inverno
A segunda é lustrosa
A terceira é amargosa
4
Tem casca bem guardada
Ninguém lhe pode mexer
Sozinha ou acompanhada
Em novembro nos vem ver


QUADRAS
Como é bom comer
Castanhas assadas
E no magusto ver
As meninas coradas

Na rua está um vendedor
De castanhas assadas
É com esforço e amor
Que faz feliz a rapaziada

Todo o dia a apanhar chuva
Coitado do vendedor!
Mas à beira das castanhas
Fica cheio de calor.

Com o frio a chegar
A natureza está-se a transformar
Os ouriços a abrir
Para as castanhas apanhar.

O S. Martinho está a chegar
A lareira vou acender
Para as castanhas assar
E contigo as comer.

Que lindo é o Outono!
Que lindo que é!
Uvas e castanhas
Dá-me o avô Zé.

Dia 11 de novembro
É o dia de S. Martinho
Come-se a castanha assada
E mais o caldo verdinho.

É dia de S. Martinho
É a festa das castanhas
Em vez de Sol há chuva
É Outono ninguém estranha.


 PROVÉRBIOS

· A cada porco vem o seu S. Martinho. 
· Em dia de S. Martinho atesta e abatoca o teu vinho. 
· Martinho bebe o vinho, deixa a água para o moinho. 
· No dia de S. Martinho, fura o teu pipinho. 
· No dia de S. Martinho, come-se castanhas e bebe-se vinho. 
· No dia de S. Martinho, lume, castanhas e vinho. 
· No dia de S. Martinho, mata o teu porco, chega-te ao lume, assa castanhas e prova o teu vinho. 
· No dia de S. Martinho, mata o teu porco e bebe o teu vinho. 
· No dia de S. Martinho, vai à adega e prova o teu vinho. 
· Pelo S. Martinho abatoca o pipinho. 
· Pelo S. Martinho castanhas assadas, pão e vinho.


· Pelo S. Martinho mata o teu porquinho e semeia o teu cebolinho. 
· Pelo S. Martinho nem nado nem no cabacinho. 
· Pelo S. Martinho prova o teu vinho; ao cabo de um ano já não te faz dano. 
· Se o Inverno não erra o caminho, tê-lo-ei pelo S. Martinho. 
· Se queres pasmar o teu vizinho, lavra, sacha e esterca pelo S. Martinho. 
· Verão de S. Martinho são três dias e mais um bocadinho. 
· Vindima em outubro que o S. Martinho to dirá. 


Desde tempos imemoriais que a castanha é um produto de base na alimentação dos homens e dos animais, sendo confecionada de todas as formas possíveis – crua, cozida, assada, em doces, em sopas, e como guarnição de alguns pratos. Antigamente, quando a produção do ano não era totalmente consumida, a que restava era transformada em castanha "pilada", seca ao fumo, em caniços (estrutura de ripas ou canas suspensas sobre a lareira), de forma a poder ser consumida mais tarde. Outro processo de conservar as castanhas é colocá-las em panelas vidradas bem tapadas ou em potes de barro cheios de areia. Apesar de ter sido colocado num plano secundário, este fruto continua a ser muito apreciado. Mal chega o mês de novembro, vemos as castanhas "quentes e boas" pelas ruas nas bancas dos vendedores, libertando um aroma apetitoso.
Apesar da sua importância ter decrescido, a castanha ficou para sempre associada a vários pratos da gastronomia regional portuguesa. Contrariamente à maioria dos outros frutos secos, as castanhas são ricas em hidratos de carbono complexos, sob a forma de amido e fibras, contendo também muito poucas proteínas e gorduras. As castanhas-do-maranhão, as avelãs e as nozes têm todas, para cima de 20 vezes mais gordura que as castanhas. Peso por peso, as castanhas têm menos de metade das calorias da maioria dos outros frutos secos e um teor de água muito mais elevado. Cerca de 100 g de castanhas fornecem aproximadamente, um terço da dose diária recomendada de vitamina E, e um quarto da de vitamina B6.

Sopa de castanhas


INGREDIENTES PARA 4  PESSOAS
8.5 decilitros de caldo de carne, de galinha ou de legumes;
500 gramas de castanhas;
1.5 dl de leite;
sal e pimenta preta moída na altura;
1 a 2 colheres de sopa de sumo de limão;
4 colheres de sopa de natas;
1 colher de sopa de salsa finamente picada;
15 gramas de amêndoas branqueadas, ligeiramente picadas e torradas.
Leve ao lume forte uma panela com caldo e, logo que levante a fervura, junte as castanhas. Quando começar novamente a ferver, reduza o lume e deixe cozer, durante 30 minutos, até as castanhas ficarem bem cozidas.
Retire do lume, deixe arrefecer ligeiramente e bata as castanhas com o caldo num copo de batidos, com a varinha mágica ou então passe pelo passe-vite. Junte o leite, tempere bem com sal e pimenta e reaqueça mexendo sempre. Junte sumo de limão, mas apenas o suficiente para cortar o sabor doce da sopa.
Deite numa terrina aquecida ou em pratos individuais, junte as natas e espalhe a salsa e as amêndoas por cima. Esta sopa é muito nutritiva e não precisa de ser acompanhada de pão, no caso de ser servida, no início da refeição. Se for o único prato de uma refeição ligeira, sirva também pão com pevides de abóbora.
tempo de preparação – 15 minutos
tempo de cozedura – 35 minutos

Puré de Castanhas


INGREDIENTES
1 kg de castanhas;
90 gramas de manteiga;
1 dente de alho;
leite quente (algumas colheres );
sal e pimenta q.b.;
açúcar;
7,5 dl de caldo de carne;
1 haste de aipo.
Lave as castanhas, dê-lhes um golpe, de modo a cortar a casca e a pele, e mergulhe-as em água a ferver, durante 5 minutos. 
Escorra, retire a casca e a pele e leve-as a cozer no caldo de carne com o aipo e o dente de alho. Tempere com sal e pimenta. 
Depois de cozidas, escorra e passe as castanhas pelo  passe-vite. 
Deite o puré numa caçarola, junte a manteiga, mexa bem e adicione algumas colheres de leite quente, de modo a obter um puré leve e cremoso. 
Retifique os temperos e junte uma pitada de açúcar se necessário. 
Este puré de castanhas é um bom acompanhamento de assados, de aves, ou de uma peça de caça.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Um poema...

AURORA BOREAL



Tenho quarenta janelas
nas paredes do meu quarto.
Sem vidros nem bambinelas
posso ver através delas
o mundo em que me reparto.
Por uma entra a luz do Sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas
que andam no céu a rolar.
Por esta entra a Via Láctea
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.
Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza
que inunda de canto a canto.
Pela quadrada entra a esperança
de quatro lados iguais,
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.
Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala
à semelhança das ondas.
Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa,
e o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio
a que se chama poesia,
e a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade,
e o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo,
todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra
nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto,
quem vos pudesse rasgar!
Com tanta janela aberta
falta-me a luz e o ar. 
©ANTONIO GEDEãO 
In Teatro do Mundo, 1958 


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O Leituras sugere...





...para novembro


O Dia em que os Lápis Desistiram


Prémio de MELHOR LIVRO INFANTIL da RED HOUSE - 2015


Num dia de escola aparentemente igual aos outros dias de escola, o Duarte teve uma grande surpresa quando foi buscar os seus lápis de cera: junto da sua mochila encontrava-se um respeitável monte de cartas, todas a ele dirigidas, atadas com um cordel e o seu nome impresso num reprovador vermelho. Os lápis de cor também se zangam. Os lápis disseram: “Basta!” O lápis preto está cansado de ser usado apenas para desenhar contornos, o azul já não aguenta pintar mais oceanos, e o amarelo e o laranja já nem sequer falam um com o outro, pois cada um reclama ser a verdadeira cor do sol. E agora? O que vai fazer o Duarte?


Uma história de Drew Daywalt que vai pôr as crianças a usar as cores de uma forma completamente diferente. Porque não existem regras para a criatividade.
Tremendamente original e muito divertido, “O dia em que os lápis desistiram” é um tratado das cores para os mais pequenos, que passarão a olhar à sua volta com um olhar tocado pelo arco-íris. Uma das grandes edições de 2014 apontadas aos mais pequenos.



Livro recomendado para apoio a projetos relacionados com as artes na Educação Pré-Escolar, 1º e 2º ano de escolaridade.

TEATRO DE FANTOCHES | novembro

12 e 26 de novembro | 10h30  
TEATRO DE FANTOCHES

A galinha ruiva

Susanna Davidson


Histórias de Encantar | novembro

5 e 19 de novembro | 10h30  
HISTÓRIAS DE ENCANTAR

Caracolinhos de ouro

Madeleine Deny

Programação mensal | novembro


terça-feira, 3 de novembro de 2015

É tempo de compotas!


Do livro: Diário X, s/editora, 1966, Coimbra

O outono é uma das mais bonitas estações do ano, graças à diversidade de cores, cheiros e sabores que nos oferece. As árvores que vão deixando cair as suas folhas e os frutos maduros e suculentos proporcionam-nos uma paleta rica de cores:
· o amarelo e o laranja – nas abóboras, nos marmelos, nos dióspiros, nas peras.
· o vermelho – nas maçãs, nos tomates, nas romãs;
· o castanho – nas castanhas, nas avelãs, nas amêndoas e nas nozes;
· o roxo – nas uvas e nos figos.


Sendo o outono um tempo rico em frutos, podemos aproveitá-los, para os consumirmos ao longo do ano.
Como?
Fazendo compotas.
Fazer compotas é um processo tradicional de conservação de frutos, através do açúcar.


Livros de receitas – as nossas sugestões:

Doces, Compotas e Geleias

Editorial Presença

100 Maneiras Compotas, Geleias e Marmeladas

Livraria Civilização Editora

Doces de Frutos - Compotas e Geleias

 Colares Editora

Na nossa Biblioteca:

                                      Compotas e conservas                                        de Elisabeth Lambert Ortiz
Livraria Civilização Editora

Sobremesas - compotas e queijos
Col. Essencial da cozinha
Editora QuidNovi

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Ainda a propósito de compotas…

A doçura
Manuel Jorge Marmelo


Anita vende a doçura em frascos. Enche-os de compota de fruta, tapa-os e cola-lhes uma etiqueta, mas, em vez de escrever compota disto ou compota daquilo, de mirtilos ou de pêssego, de marmelo ou de morango, arredonda a letra e escreve apenas Doçura. Senta-se no passeio com os frascos defronte, expostos no asfalto, junto aos pés, e não lhe faltam clientes. A compota vende-se muito bem e ninguém regressa para reclamar: quem compra julga que a doçura está toda nos olhos de Anita.


 Anita vende, pois, a doçura que tem no olhar e a doçura que embala nos frascos de vidro. É isso o que faz, sentada no passeio defronte do Mercado Sucupira, pelo menos desde que desistiu de escrever poemas.

 Na escola, a professora de Anita não se cansava de lhe gabar a delicadeza das composições que escrevia. A mestra ordenava às crianças que escrevessem uma composição sobre isto ou aquilo, sobre a Primavera ou sobre o ilhéu defronte da baía da Gamboa, e o que Anita fazia era sempre igual: escrevia no topo da folha pautada a palavra Composição com essa mesma letra indecisa e pequena que hoje lhe serve para escrever Doçura nas etiquetas dos frascos de doce — e depois deixava que a cabeça a levasse para longe, para o mundo impalpável das coisas que estão escritas nas páginas dos livros. Escrevia sobre bosques impenetráveis e montanhas verdejantes, sobre belos guerreiros medievais e cidades de prédios muito altos, ainda que não houvesse na ilha nenhuma das coisas que descrevia e, por isso, ela nunca tivesse visto bosque algum, nenhuma paisagem alpina ou um príncipe que fosse.

 E um dia, mais do que gabar-lhe a composição e afagar-lhe a carapinha, a professora disse:

— Um dia ainda vais ser poeta, Anita.

 E Anita conseguiu imaginar que era poeta, que escrevia livros iguais aos que gostava de ler à noite, quando a luz faltava na Praia e a cidade voltava a ser um sítio apenas iluminado por candeias e velas. Cresceu, por isso, julgando que, um dia, escreveria poemas e frases bonitas sobre a sua ilha e que as crianças das outras partes do mundo leriam o que escrevesse e sonhariam com a baía morna onde, às vezes, a lua cheia vem namorar o mar — do mesmo modo que eu, estando longe, vejo Anita sem sequer a ver. Estou num sítio ao Norte do mundo, no Inverno, longe do mar, num prédio alto e cinzento, igual aos que Anita imagina quando tem que escrever uma composição sobre A Cidade. Não vejo, de onde estou, o Mercado Sucupira, nem essa Avenida de Lisboa em cujo passeio Anita se senta para vender a Doçura. Nesta janela, tendo defronte apenas as janelas gémeas de um prédio igual, encosto a face ao vidro da varanda e adivinho o frio que faz lá fora (todo o frio me parece muito desde o dia perverso em que o Verão termina). Invento o frio e encolho ainda mais dentro do corpo. É aqui, porém, que, encostado ao vidro que me separa do Inverno, espero que venha o raio morno que o sol derrama quando se eleva acima da massa sombria dos prédios da cidade. Então, e por um instante, fecho os olhos, esqueço o Inverno e imagino que ainda é Verão, que a cidade lá fora é a Praia e que Anita está sentada no passeio a vender Doçura desde o dia em que soube que não seria poeta.

 Ora a invejo, ora me enterneço com a doçura que guarda e com o modo que tem de a entregar ao mundo, ali sentada no passeio escalavrado da Avenida de Lisboa: agita uma revista velha diante do peito para se refrescar e põe a mão em pala diante dos olhos (para que o sol não derreta o açúcar que neles há). As outras pessoas passam e veem Anita vendendo a Doçura em frascos. Muitas param para comprar: uns levam apenas a compota, outros vêm pela imensa doçura que há nos olhos da menina-moça, pelo sorriso imenso que o rosto dela desenha.

 Eu, que não vejo Anita, vejo claramente o riso dela, o lenço branco que Anita tem enrolado na cabeça, a camisa cor-de-rosa, as argolas douradas que tem nas orelhas, a saia de chita, o chinelo de plástico que abriga os pés dela. Imagino até que, às vezes, Anita lance no ar um pregão tímido

— Nha leba doçura pa casa

que o barulho do trânsito o abafa. Que, quando regressar a casa depois de ter vendido todos os frascos, Anita levará o dinheiro apertado na mão, firmemente, feliz por ter vendido toda a compota — e triste por não ter podido ser poeta. Vai caminhando de cabeça erguida, devagar, como se o seu andar fosse uma pausa entre a ida veloz dos passos de uns e a vinda apressada dos passos dos outros. Não escuta os piropos dos rapazes, não ouve o barulho da cidade: vai inventando poemas que não escreverá jamais, pois cedo a mãe lhe explicou que

— Não é poeta quem quer, é poeta quem a vida deixa. Poesia de pobre é comida na mesa para encher barriga.

 Quando a noite vem e não há luz na Praia, quando o zumbido das coisas elétricas cessa e se pode escutar o murmúrio da terra e os sussurros da vizinhança, Anita debruça-se na janela da casa e fica a contemplar o corisco breve das estrelas. Imagina poemas que não escreve e inventa paisagens nevadas, belos príncipes crioulos montados em alazões, cidades de altíssimos prédios onde todos se conhecem pelo nome próprio e se cumprimentam à tardinha quando regressam a casa — tudo pode ser visto nas estrelas diante da janela do quarto de Anita.

 Quando aí está, esperando que os pontos luminosos da noite se ordenem e inventem mundos, Anita pensa que ainda é poeta, que são poemas as frases com que imagina príncipes crioulos e cidades imensas de vidro e aço. Sonha os livros que escreveria se não fosse menina pobre e a vida tivesse permitido que o vaticínio da velha mestra se concretizasse.

(— Um dia ainda vais ser poeta, Anita)

 Às vezes, pensando nisto, Anita ainda se entristece. Olhando-a a partir da minha janela do país onde é quase sempre Inverno, vejo que as estrelas se lhe refletem no orvalho dos olhos. Vejo isto e enterneço-me. Daqui longe fecho os meus olhos e sussurro bem baixinho a única verdade que existe — para que ela a oiça: que não há no mundo todo maior poema do que vê-la, sentada no passeio, a vender a Doçura que tem nos frascos. E nos olhos.


O prazer da leitura
Edição conjunta de FNAC/Teorema publicado por ocasião do Dia Mundial do Livro
23 de Abril 2007
(excerto)