O escritor português José Saramago celebraria, esta quarta-feira 16 de novembro, o centenário do seu nascimento.
O Nobel da Literatura, atribuído em 1998, foi homenageado, ao longo de um ano em Portugal, naturalmente, mas também no Brasil ou em Espanha. Saramago foi o mote para iniciativas de artes performativas, Literatura, conferências ou exposições. Um programa que arrancou no ano passado, neste mesmo dia, e que termina quando celebraria um século de vida.
Saramago nasceu numa aldeia do Ribatejo em 1922, faleceria em 2010 em Lanzarote, ilha espanhola nas Canárias, onde viveu com a mulher Pilar del Rio.
Além dos vários livros de Saramago, disponíveis na nossa Biblioteca, para empréstimo (consultar o catálogo on-line), o nosso destaque e sugestão de leitura vai para:
"A maior flor do mundo"
Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para o 4º ano de escolaridade, destinado a leitura orientada.
ARTE POÉTICA
Vem de quê o poema? De quanto serve
A traçar a esquadria da semente:
Flor ou erva, floresta e fruto.
Mas avançar um pé não é fazer jornada,
Nem pintura será a cor que não se inscreve
Em acerto rigoroso e harmonia.
Amor, se o há, com pouco se conforma
Se, por lazeres de alma acompanhada,
Do corpo lhe bastar a presciência.
Não se esquece o poema, não se adia,
Se o corpo da palavra for moldado
Em ritmo, segurança e consciência.
DO COMO E DO QUANDO
E quando não se calam os protestos
Do sangue comprimido nas artérias?
E quando sobre a mesa ficam restos,
Dentaduras postiças e misérias?
E quando os animais tremem de frio,
Olhando a sombra nova de castrados?
E quando num deserto de arrepio
Jogamos contra nós cartas e dados?
E quando nos cansamos de perguntas,
E respostas não temos, nem gritando?
E quando às esperanças aqui juntas
Não sabemos dizer como nem quando?
MITOLOGIA
Os deuses, noutros tempos, eram nossos
Porque entre nós amavam. Afrodite
Ao pastor se entregava sob os ramos
Que os ciúmes de Hefesto iludiam.
Da plumagem do cisne as mãos de Leda,
O seu peito mortal, o seu regaço,
A semente de Zeus, dóceis, colhiam.
Entre o céu e a terra, presidindo
Aos amores de humanos e divinos,
O sorriso de Apolo refulgia.
Quando castos os deuses se tornaram,
O grande Pã morreu, e órfãos dele,
Os homens não souberam e pecaram.
José Saramago, Poesia Completa