quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Louise Glück - Prémio Nobel da Literatura de 2020

 


Louise Glück é a 16.ª mulher a ser galardoada com o Prémio Nobel da Literatura. A escritora é a terceira norte-americana a receber o prémio e a primeira poeta dos Estados Unidos da América a ser laureada. Considerada uma das mais importantes poetas norte-americanas, a importância da sua obra tem sido igualmente assinalada fora do seu país natal.

Em Portugal, nenhum dos seus livros se encontra traduzido, aguardando-se para breve a publicação de edições em português.


O Poder de Circe

Nunca transformei ninguém em porco.

Algumas pessoas são porcos; faço-os

parecerem-se a porcos.


Estou farta do vosso mundo

que permite que o exterior disfarce o interior.


Os teus homens não eram maus;

uma vida indisciplinada

fez-lhes isso. Como porcos,


sob o meu cuidado

e das minhas ajudantes,

tornaram-se mais dóceis.


Depois reverti o encanto,

mostrando-te a minha boa vontade

e o meu poder. Eu vi


que poderíamos ser aqui felizes,

como o são os homens e as mulheres

de exigências simples. Ao mesmo tempo,

previ a tua partida,

os teus homens, com a minha ajuda, sujeitando

o mar ruidoso e sobressaltado. Pensas


que algumas lágrimas me perturbam? Meu amigo,

toda a feiticeira tem

um coração pragmático; ninguém


vê o essencial que não possa

enfrentar os limites. Se apenas te quisesse ter

podia ter-te aprisionado.


Poema publicado originalmente na coletânea Meadowlands (1996), com o título “Circe’s Power”. Editado em Portugal na antologia Rosa do Mundo. 2001 Poemas Para o Futuro (2001), da Assírio & Alvim, numa tradução de José Alberto Oliveira.

Circe Oferece a Taça para Ulisses, pintura a óleo do pintor John William Waterhouse

Circe era uma famosa feiticeira, considerada a Deusa da Noite, que com imenso poder da alquimia, elaborava venenos e poções mágicas. Segundo a lenda, costumava transformar os homens em animais.

Na Odisseia, no decurso de suas perambulações, o herói Ulisses e sua tripulação desesperada chegaram na Ilha de Eana, onde vivia Circe. Ao desembarcar, Ulisses subiu até uma montanha de onde avistou um ponto no centro da ilha, um palácio rodeado de árvores.

Ulisses enviou seus homens para verificar as condições de hospitalidade. Ao se aproximarem do palácio os gregos viram-se rodeados de leões, tigres e lobos, não ferozes, mas domados pela arte de Circe, que eram homens transformados em feras por seus encantamentos. De dentro do palácio vinha uma música suave e o canto de uma bela voz de mulher. Quando entraram, ela os recebeu e eles de nada desconfiaram, exceto Euríloco, o chefe da expedição.

A deusa serviu vinho e iguarias. Enquanto eles se divertiam, Circe tocou-os com uma varinha de condão e eles se transformaram imediatamente em porcos, embora conservando a inteligência de homens. Euríloco se apressou a voltar ao navio e contar o que vira. Ulisses, então, resolveu ir ele próprio tentar a libertação dos companheiros.

Enquanto se encaminhava para o palácio encontrou o jovem Hermes, que conhecia suas aventuras e lhe contou dos perigos de Circe. Não sendo capaz de convencer Ulisses, Hermes deu-lhe o broto de uma planta chamada Moli, dotada do poder de resistir às bruxarias e ensinou-lhe o que deveria fazer.

Quando Ulisses chegou ao palácio foi recebido por Circe com muita cortesia, que lhe serviu vinho e comida. Mas quando ela o tocou com a varinha para transformá-lo em porco, Ulisses tirou sua espada e investiu furioso contra a deusa, que implorou clemência. Ulisses exigiu que ela libertasse seus companheiros e ela retirou o encantamento. Os homens readquiriram suas formas e Circe prometeu um banquete para toda tripulação.

Tratados magnificamente durante vários dias, Ulisses esqueceu de retornar à Ítaca, e se resignou àquela vida inglória de ócio e prazer. Por alguns anos, Ulisses permaneceu com Circe aprendendo com ela as magias do encantamento. Por fim seus companheiros apelaram para seus sentimentos mais nobres, e ele resolveu partir.

Circe recomendou aos marinheiros tapar os ouvidos com cera para passar sãos e salvos pela costa da Ilha das Sereias. As sereias eram ninfas marinhas que tinham o poder de enfeitiçar com seu canto, fazendo-os atirar-se ao mar e encontrar a morte. A Ulisses, Circe aconselhou a amarrar a si mesmo no mastro dando instruções a seus homens para não o libertar, fosse o que fosse que ele dissesse ou fizesse, até terem passado pela Ilha das Sereias.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Vítor Aguiar e Silva vence o Prémio Camões 2020

 


Vítor Aguiar e Silva nasceu em 1939.


Tendo obtido todos os seus graus e títulos académicos na Universidade de Coimbra, foi professor catedrático da Faculdade de Letras da mesma Universidade até 1989, ano em que solicitou a sua transferência para a Universidade do Minho.

Nesta Universidade, foi professor catedrático do Instituto de Letras e Ciências Humanas, fundou e dirigiu o Centro de Estudos Humanísticos e a revista "Diacrítica" e desempenhou as funções de vice-reitor de junho de 1990 a julho de 2002, data em que passou à situação de professor aposentado.

Tem-se dedicado especialmente ao estudo da Teoria da Literatura, domínio em que a relevância do seu ensino e da sua investigação é nacional e internacionalmente reconhecida, e da Literatura Portuguesa do Maneirismo, do Barroco e do Modernismo. Os estudos camonianos têm constituído objeto constante da sua atividade de investigador.

Tem desempenhado funções docentes, como professor visitante, em diversas Universidades estrangeiras. Orientou numerosas dissertações de mestrado e doutoramento, na sua maioria publicadas. Ocupou, por escolha governamental, diversos cargos nas áreas da Educação e da Cultura.

Autor, entre outros, dos seguintes trabalhos: Para uma interpretação do Classicismo, Maneirismo e Barroco na poesia lírica portuguesa, Teoria da Literatura, Competência Linguística e competência literária: Sobre a possibilidade de uma poética gerativa, Análise e metodologia literárias e Camões: Labirintos e fascínios (obra galardoada com o prémio de ensaio da Associação Portuguesa de Críticos Literários e da Associação Portuguesa de Escritores).

A Universidade de Évora atribuiu-lhe o Prémio Vergílio Ferreira de 2002.

Em 2007, foi-lhe atribuído o Prémio Vida Literária, instituído pela Associação Portuguesa de Escritores e pela Caixa Geral de Depósitos, o mais alto galardão literário existente em Portugal. Em 2018, recebeu o prémio Vasco Graça Moura - Cidadania Cultural.

Vítor Aguiar e Silva é um dos "eminentes professores" signatários da Petição em Defesa da Língua Portuguesa contra o Acordo Ortográfico, que conta mais de cem mil assinaturas.

O júri da 32ª edição do Prémio Camões, que decorreu em Lisboa, explica a escolha de Vítor Manuel de Aguiar e Silva: "A atribuição do Prémio Camões a Vítor Aguiar e Silva reconhece a importância transversal da sua obra ensaística, e o seu papel activo relativamente às questões da política da língua portuguesa e ao cânone das literaturas de língua portuguesa."

Acrescenta ainda que "no âmbito da teoria literária, a sua obra reconfigurou a fisionomia dos estudos literários em todos os países de língua portuguesa. Objecto de sucessivas reformulações, a Teoria da Literatura constitui-se como exemplo emblemático de um pensamento sistematizador que continuamente se revisita. Releve-se igualmente o importante contributo dos seus estudos sobre Camões."

Da sua vasta bibliografia, destaca-se Teoria da Literatura (1967), A Estrutura do Romance (1974), Teoria e Metodologia Literárias (1990), Camões: Labirintos e Fascínios (1994), Dicionário de Luís de Camões (2011).

O Prémio Camões de literatura em língua portuguesa foi instituído por Portugal e pelo Brasil em 1988, com o objetivo de distinguir um autor "cuja obra contribua para a projeção e reconhecimento do património literário e cultural da língua comum".

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Escritor do mês | outubro

LÍDIA JORGE

(1946/)

40 anos de vida literária



Romancista, contista e autora de uma peça de teatro, Lídia Guerreiro Jorge nasceu em Boliqueime em 1946.

Licenciada em Filologia Românica, foi professora liceal em Lisboa e em África – Angola e Moçambique – para onde partiu em 1970. Ali viveu o marcante ambiente da Guerra Colonial, que mais tarde descreveria no romance A Costa dos Murmúrios através da perspetiva de uma personagem feminina, a mulher de um oficial do exército português de serviço em Moçambique.

De regresso a Lisboa continuou a atividade docente e, em 1980, publicou o romance O Dia dos Prodígios, que lhe valeu o Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa. Esta sua primeira obra publicada deve um impulso à revolução de abril de 1974: O Dia dos Prodígios constrói-se como uma alegoria do país fechado e parado que Portugal era sob a ditadura, permanentemente à espera de uma força que o transformasse. O romance teve grande impacto junto do público e da crítica e Lídia Jorge foi de imediato saudada como uma das mais importantes revelações das letras portuguesas e uma renovadora do nosso imaginário romanesco. 

A linguagem narrativa deste romance e do seguinte – O Cais das Merendas – remete para a atmosfera do realismo mágico, sobrepondo vários planos narrativos numa estrutura polifónica de onde se destacam personagens que adquirem uma dimensão metafórica, ou mesmo mítica. A autora tem entretanto vindo progressivamente a adotar um tom mais realista, nomeadamente em O Jardim sem Limites, onde à pequena aldeia de Vilamaninhos, que simbolizava no seu primeiro romance o Portugal pequenino e arcaico, se substitui Lisboa, a metrópole europeia onde se cruzam todas as influências e se rarefazem identidades e territórios. Nos romances de Lídia Jorge, a condição sociocultural das personagens, sobretudo as femininas, reflete-se em diálogos, testemunhos a que não é alheia a atenção que a autora dispensa à tradição oral, em relação direta com a crónica da nossa história recente, antes e depois da revolução. A sua peça para teatro (A Maçon) procura um tempo mais remoto, os primeiros anos da ditadura, para retratar a condição feminina imposta pela ideologia do Estado Novo e a perda de liberdades (também) por parte das mulheres.

A par da atividade literária, Lídia Jorge foi professora convidada da Faculdade de Letras de Lisboa, atividade que interrompeu para desempenhar funções na Alta Autoridade para a Comunicação Social, entre 1990 e 1994.

Lídia Jorge tem mais de 30 títulos publicados, entre os quais o premiadíssimo O Vale da Paixão (1998). O seu mais recente romance, "Estuário" (2018), recebeu o XXIV Grande Prémio de Literatura DST e foi finalista, em França, do Prémio Médicis 2019. 

Nesse ano publicou a sua primeira obra de poesia, "O Livro das Tréguas", e, já este ano, o seu primeiro livro de crónicas - "Em Todos os Sentidos".

A autora tem também produção no domínio da literatura infantil (O Último Voo do Pardal, 2007; O Romance do Grande Gatão, 2010).

A escritora foi já distinguida com outros galardões, como o Prémio Vergílio Ferreira (2015), o Prémio Luso-Espanhol de Cultura (2014), o Prémio Internacional de Literatura da Fundação Günter Grass (2006), o Grande Prémio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio Correntes d'Escritas (2002), o Prémio Jean Monet de Literatura Europeia (2000) e o Prémio D. Diniz da Casa de Mateus (1998).

Em 2020, Lídia Jorge foi distinguida com o Prémio da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, de Literatura em Línguas Românicas.

Lídia Jorge é a 30.ª distinguida com o principal prémio de literatura desta Feira e é o segundo escritor português distinguido, depois de António Lobo Antunes, em 2008.

O Prémio Tributo de Consagração Fundação Inês de Castro/2019 foi atribuído, em julho passado, à obra de Lídia Jorge.

Os seus livros estão traduzidos para diversas línguas.

Fontes: DGLAB; www.dn.pt



O Leituras sugere...

 



...para outubro 


O Código da Vinci - edição juvenil

Dan Brown



O best-seller de Dan Brown está agora disponível numa adaptação da obra feita a pensar numa nova geração de leitores mais novos. A estrutura base do romance mantém-se inalterada na condução dos leitores desde Paris até Londres, passando por alguns dos seus lugares mais emblemáticos, numa alucinante corrida contra o tempo. A edição inclui mais de vinte fotos coloridas que mostram os locais e as obras de arte mais marcantes na narrativa.

Robert Langdon, professor de simbologia da Universidade de Harvard, está em Paris para dar uma palestra. Na receção que se segue deve encontrar-se com um respeitado curador do mundialmente famoso Museu do Louvre.

Mas o curador nunca aparece e mais tarde, durante a noite, Langdon é acordado pelas autoridades e é informado que o curador foi encontrado morto. De seguida, é conduzido ao Louvre, à cena do crime, e descobre pistas desconcertantes. Este é o ponto de partida para uma corrida contra o tempo, durante a qual Robert Langdon, auxiliado pela criptologista francesa Sophie Neveu, procura decifrar um conjunto de pistas especificamente deixadas para sua interpretação. Se Robert e Sophie não conseguirem resolver o quebra-cabeças a tempo, serão confrontados com um trágico destino.

Literatura Juvenil - Thriller

Um poema...

 Gostaria

Gostaria

Gostaria

De vir a ser um grande poeta

E que as pessoas

Me pusessem

Muitos louros na cabeça

Mas aí está


Não tenho

Gosto suficiente pelos livros

E penso demais em viver

E penso demais nas pessoas

Para estar sempre contente

De só escrever vento

 

Boris Vian, Canções e Poemas

(Boris Vian (1920-1959) foi um polímata - engenheiro, inventor, ator, escritor, poeta, cronista, tradutor e músico de jazz.)