quarta-feira, 27 de maio de 2020

Histórias de Encantar Online

1, 2, 3… uma história de cada vez

Olá, amiguinhos!

Agora, para protegermos a nossa saúde, não podemos receber-vos na biblioteca, onde todos gostam de ouvir as histórias que vos contamos com muito agrado. Mas nós vamos até vossas casas, levando os livros e as histórias narradas com o mesmo carinho e entusiasmo.

Esta atividade é apresentada em vídeo publicado semanalmente, à 4ª feira, neste blog e no Facebook da Fundação ALORD.

Um desafio: poderão fazer um desenho relativo a cada história escutada e, com a ajuda dos pais, enviá-lo para biblioteca@fundacaoalord.pt.
Mais tarde, quando voltarem a poder visitar a nossa Biblioteca, poderão ver os vossos trabalhos numa exposição dedicada a esta atividade.

Participem!

A nossa história de hoje: “Ungali”

Autor: SERRA, Elsa - “Ungali”. Porto: Porto Editora, 2015


segunda-feira, 18 de maio de 2020

18 MAIO | Dia Internacional dos Museus


Tendo estado encerrados durante dois meses, devido à pandemia Covid 19, os museus e monumentos de Portugal reabrem hoje as suas portas ao público — a data em que se celebra o Dia Internacional dos Museus.

Assinalando esta efeméride, sugerimos um roteiro virtual de alguns museus que podem ser visitados sem sair de casa, num tempo em que a prudência aconselha ainda o maior resguardo possível.

A Internet permite, assim, o contacto permanente com a cultura e a arte, enquanto se aguardam dias mais seguros para visitas presenciais





Muitos outros museus nacionais e internacionais podem ser visitados através do Google Arts and Culture.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Ler em tempo de pandemia


O período difícil que atravessamos alterou a forma como acedemos à cultura.

A cultura não está sujeita a quarentena, pelo contrário, pode ajudar-nos a superar as limitações a que estamos obrigados: sentar num sofá a ler um livro ou a ouvir música, visitar museus através da internet, ver um filme ou assistir a programas de informação e de divulgação cultural na televisão podem proporcionar-nos momentos de lazer, de evasão, de descanso e de tranquilidade, fundamentais nestes dias. Os livros, a música, o teatro e o cinema continuam a fazer-nos companhia, mas dentro das nossas casas.

Vivemos, agora, dias de retoma lenta e cautelosa de hábitos da nossa vida.

Neste contexto, e querendo servir todos os seus utentes após o encerramento imposto pelo estado de emergência, a Biblioteca reabriu no passado dia 11 de maio, embora com restrições no número de leitores presenciais. As requisições para leitura domiciliária já estão disponíveis, feitas presencialmente ou através de reserva no nosso catálogo online

Mas este é também um tempo em que o acesso à cultura está facilitado e à distância de um clique.

Assim, continuamos a deixar aqui sugestões de leitura e outras, sempre com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento cultural de cada um.

O ÚLTIMO CONTO DO ESCRITOR SÉRGIO SANT’ANNA

O escritor brasileiro Sérgio Sant’anna, de 78 anos, morreu este domingo, dia 10 de maio, vítima de Covid-19.

Sérgio Sant’Anna foi autor de romances, como “Confissões de Ralfo” e “Um crime delicado”, e de livros de contos, como “O homem-mulher”.

Sérgio Sant'anna, um mestre do conto em língua portuguesa, venceu três prémios Jabuti, o principal prémio da literatura no Brasil. O seu último livro, 'Anjo Noturno', foi publicado em 2018.

Em ‘A dama de branco’, o seu último conto, o autor descreve a contemplação de uma mulher em tempos de isolamento, ao som de ‘Gnossiennes’.
(Nota: Gnossiennes são um conjunto de composições para piano escritas pelo francês Erik Satie no fim do século XIX.)
Leia o conto ao som de Gnossiennes 1 


A dama de branco



Temos a sorte dos apartamentos em nosso edifício serem providos de sacadas. Embora pequenas, as sacadas são uma abertura para o universo. Agora, com a diminuição do monóxido de carbono na atmosfera, com muito menos carros circulando no Rio, várias estrelas se tornaram visíveis. Estou pensando em comprar um telescópio pela internet. Enquanto isso, contemplo o céu a olho nu mesmo. Me embriaga não passar de um ser ínfimo no cosmos.

Mas o que me leva a vir para a sacada de madrugada, mais do que as estrelas, é contemplar a dama de branco, que circula pelo estacionamento a céu aberto do edifício, sempre às três da manhã. Todos estão dormindo e fico contente com isso, pois, com ninguém mais a contemplá-la, é como se a dama de branco me pertencesse exclusivamente.

Entendi por que ela sempre vem a essa hora. É porque não há ninguém a importuná-la, reclamar que ela não está usando máscara, como se tornou obrigatório fora de casa. Imagino ver as suas feições, reparar como é bonita. Uma beleza singular, que não consigo descrever. É compreensível que ela queira caminhar a céu aberto, e ao mesmo tempo protegida pelos porteiros, que permanecem em seus abrigos nos portões do condomínio. As ruas de noite são sempre perigosas e confrangeria meu coração se algum mal acontecesse com a dama de branco.

Com minha imaginação solta, penso na dama de branco como uma sílfide, que parece levitar acima do solo, com o seu vestido comprido, esvoaçante. Penso nela como uma mulher pura, inclusive porque nestes tempos de isolamento até os namorados não dormem mais juntos, nem se encontram. Não consigo imaginá-la na cama com homens, esses seres brutos. Com outra mulher, talvez, mas agora deve dormir sozinha, quero crer.

Para mim ela está em outra dimensão. Não tenho propriamente uma religião, mas como guardo dois bons livros de astronomia, que volta e meia releio, penso na grandeza para mim incalculável do universo. Trilhões de astros, bilhões de anos-luz. Mas penso que, se houver um Deus, Ele não é bom, como dizem, mas indiferente à sorte humana, isso se houver um pensamento de Deus.

No entanto, como imaginá-Lo? Não deixo de usar para Ele as maiúsculas de praxe. Cheguei a refletir, sem nenhuma certeza, só dúvidas, se por acaso Ele ainda não estará sendo criado, muito aos poucos, pela mente humana?

Mas o nada também não me angustia. Penso nele como uma espécie de barato como o produzido pelo ópio, que experimentei duas vezes na Meca que é Nova York, onde, com as informações certas, pode se experimentar um pouco de tudo. Mas para conseguir o ópio tinha de digitar uma senha no celular, ora vejam só. Nem sei o que aconteceria comigo se continuasse naquela cidade. Experimentava a droga com uma mulher que eu não amava nem desejava, como ela também não a mim, mas, depois que eu a pagava, gostava de se deitar comigo, drogada, ambos silenciosos.

Não consigo deixar de pensar na dama de branco deitada comigo, quem sabe nua, com seu corpo esguio, mas isso me parece um sacrilégio. A dama vem à minha mente como uma pessoa solitária como eu, não imaginando que a possam observar em sua caminhada, nesta hora tão deserta. Nem transaríamos, pois já estou com setenta e nove anos.

Crio para a dama de branco uma história. Ela me conta sobre sua infância. De como gostava de passear em sua rua de Botafogo de mãos dadas com uma amiga muito especial. De como ela amava essa amiga que morreu muito jovem, de uma doença misteriosa. Mas antes teve tempo de falar que a esperaria. Não foi egoísta a ponto de pedir que a dama de branco também a esperasse ou partisse logo para se juntar a ela. Então a dama de branco teria experimentado várias relações, sempre com um sentido de incompletude, até que chegou este tempo da peste e ela está em isolamento como eu. Às vezes, penso que a dama de branco é a própria morte. Sei que isso é um modo de prendê-la e logo me penitencio e sei que em outro momento pensarei outra coisa. A morte não passa de uma obsessão minha.

Pelo menos é isso que imagino neste momento. Noutra hora posso pensar que ela fora casada com um pianista, um jovem amável e sensível. Depois apago, por ciúmes, esse pianista. Então é ela a pianista e eu a escuto embevecido. Não, sou eu o pianista e toco para ela. Tento compor no pensamento uma melodia, mas logo me vem à cabeça as Gnossiennes, de Satie, que eu escutava compulsivamente na sala, antes de vir para a varanda para acompanhar a dama de branco indo e voltando na área do estacionamento, com a leveza de uma bailarina. Será ela uma bailarina? Satie anotou que as Gnossiennes deviam ser tocadas com convicção e uma tristeza rigorosa. Eu tenho essa tristeza rigorosa, que me faz feliz. Os títulos de Satie são tão interessantes quanto suas obras: Três peças em forma de pera, Prelúdios flácidos, Desespero agradável.

Satie compondo em seu confinamento, só saindo, sempre de terno negro, para encontrar seus amigos dadaístas. Como eu gostaria de estar entre eles. Não, quero viver este momento mesmo. Quero ser eu próprio. Mas quem sabe a dama de branco tocando as Gnossiennes para mim a seus pés? Satie e eu amamos essa tristeza lírica. E a dama de branco, será? Não, penso mesmo que ela é etérea, a caminhar quase sem tocar o solo. Será que não pressente o meu olhar? Poderá ela me amar como eu a amo?

Satie fundou uma religião denominada “Igreja Metropolitana da Arte de Jesus Condutor” e excomungava quem não aderisse a ela. Eu adiro a ela e quem sabe poderia me casar com a dama de branco segundo os seus rituais, ao som da Gnossienne 1. Eu teria prazer em cozinhar para ela, ser seu escravo. Não, não, porque aí haveria os perigos inerentes ao hábito. Prefiro vê-la como que levitando lá em baixo.

Ah, mas como eu gostaria de deitar com a dama de branco numa cama, consumindo ópio. Como não tenho ópio, vai este baseado mesmo. Seria como se nos beijássemos, misturando nossas salivas em sua seda.

Sérgio Sant’Anna, Conto publicado originalmente na revista brasileira Época.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Um poema...


Construção

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague

Chico Buarque

Fonte: Musixmatch


Escritor do mês | maio


CHICO BUARQUE
(1944/)


Francisco Buarque de Hollanda, mais conhecido como Chico Buarque, nasceu no Rio de Janeiro em 1944. Compositor, cantor e ficcionista, é um dos mais célebres e admirados artistas de língua portuguesa.


Publicou várias peças de teatro, entre as quais a Ópera do Malandro, e uma novela antes de se estrear no romance, em 1991, com Estorvo, pelo qual recebeu o Prémio Jabuti, o mais importante prémio literário no Brasil. Seguiram-se Benjamim (1995), Budapeste (2003) e Leite Derramado (2009), estes dois últimos distinguidos também com o Prémio Jabuti para melhor romance do ano. Os últimos romances editados são O Irmão Alemão (2014) e Essa gente (2019).

Todos os seus romances estão publicados em Portugal pela Companhia das Letras, assim como Tantas Palavras, um livro que reúne todas as suas letras acompanhadas por um retrato biográfico escrito por Humberto Werneck.

Em 2019 Chico Buarque viu a sua obra literária reconhecida com a atribuição do Prémio Camões, a mais alta distinção para autores de língua portuguesa.




Devia ser proibido debochar de quem se aventura em língua estrangeira. Certa manhã, ao deixar o metrô por engano numa estação azul igual à dela, com um nome semelhante à estação da casa dela, telefonei da rua e disse: aí estou chegando quase. Desconfiei na mesma hora que tinha falado besteira, porque a professora me pediu para repetir a sentença. Aí estou chegando quase... havia provavelmente algum problema com a palavra quase. Só que, em vez de apontar o erro, ela me fez repeti-lo, repeti-lo, repeti-lo, depois caiu numa gargalhada que me levou a bater o fone. Ao me ver à sua porta teve novo acesso, e quanto mais prendia o riso na boca, mais se sacudia de rir com o corpo inteiro.

 Disse enfim ter entendido que eu chegaria pouco a pouco, primeiro o nariz, depois uma orelha, depois um joelho, e a piada nem tinha essa graça toda.

Tanto é verdade que em seguida Kriska ficou meio triste e, sem saber pedir desculpas, roçou com a ponta dos dedos meus lábios trêmulos. Hoje, porém, posso dizer que falo o húngaro com perfeição, ou quase. Quando de noite começo a murmurar sozinho, a suspeita de um ligeiríssimo sotaque aqui e ali muito me aflige. Nos ambientes que frequento, onde discorro em voz alta sobre temas nacionais, emprego verbos raros e corrijo pessoas cultas, um súbito acento estranho seria desastroso.

Para tirar a cisma, só posso recorrer a Kriska, que tampouco é muito confiável; a fim de me segurar ali comendo em sua mão, como talvez deseje, sempre me negará a última migalha. Ainda assim, volta e meia lhe pergunto em segredo: perdi o sotaque? Tinhosa, ela responde: pouco a pouco, primeiro o nariz, depois uma orelha... E morre de rir, depois se arrepende, passa as mãos no meu pescoço e por aí vai.

Fui dar em Budapeste graças a um pouso imprevisto, quando voava de Istambul a Frankfurt, com conexão para o Rio. A companhia ofereceu pernoite num hotel do aeroporto, e só de manhã nos informariam que o problema técnico, responsável por aquela escala, fora na verdade uma denúncia anônima de bomba a bordo. No entanto, espiando por alto o telejornal da meia-noite, eu já me intrigara ao reconhecer o avião da companhia alemã parado na pista do aeroporto local.

Chico Buarque, Budapeste, D. Quixote,14º ed.,2011

Chico Buarque | Caravanas Ao Vivo (Show Completo)


O Leituras sugere...





...para maio 


O Monstro que Veio do Gelo
 David Walliams; Ilustração: Tony Ross


Em 1899, em plena época vitoriana,  Elsie, uma órfã que vive nas ruas de Londres, ouve falar do misterioso Monstro do Gelo - um mamute lanudo de 10 000 anos, encontrado e capturado no Pólo Norte, perfeitamente preservado no gelo, e que vai fazer parte da coleção do Museu de História Natural. Curiosa, a menina faz tudo para saber mais sobre ele. E não tarda a dar de caras com a criatura, sentindo de imediato um enorme afeto por ela.

Elsie embarca na aventura da sua vida, partindo de Londres e atravessando o alto mar, para ajudar o mamute a regressar a casa.

Na maior e mais épica aventura de sempre, David Walliams mostra que há heróis de todos os tamanhos e feitios.

Com um enredo cheio de aventuras, peripécias e imagens muito expressivas, este livro é muito divertido e transmite, ao mesmo tempo, um conjunto de valores morais importantes.

Há ainda um posfácio onde se poderá aprender mais sobre mamutes lanudos, bem como conhecer o verdadeiro espírito vitoriano.

terça-feira, 5 de maio de 2020

DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA



A 5 de maio de 2020 comemora-se, pela primeira vez, o Dia Mundial da Língua Portuguesa – data consagrada pela UNESCO no calendário internacional, reconhecendo, assim, a importância da nossa língua a nível mundial: é a língua mais falada no hemisfério sul e a quarta a nível mundial.
O português é falado por mais de 260 milhões de pessoas nos cinco continentes, ou seja, 3,7% da população mundial.

É língua oficial dos nove países-membros da CPLP (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) e Macau, bem como língua de trabalho ou oficial de um conjunto de organizações internacionais como a União Europeia, União Africana ou o Mercosul.

Para assinalar esta efeméride destacamos alguns dos vários livros de autores de diferentes nacionalidades, escritos em português, que podem ser requisitados na nossa Biblioteca.