terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Escritor do mês | fevereiro

 ABDULRAZAK GURNAH

(1948/)

 

PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA 2021


“Não ganhamos prémios por sermos africanos, mas pelo que escrevemos”

Abdulrazak Gurnah

 

Abdulrazak Gurnah nasceu em 1948 em Zanzibar. Na década de 1960, foi forçado a sair do seu país, então a braços com uma revolução, e chegou como refugiado ao Reino Unido. Foi professor de Inglês e Literaturas Pós-coloniais na Universidade de Kent. A sua obra versa sobre a experiência africana, o colonialismo e o refugiado, e nela se destacam os romances Paradise (1994), finalista do Booker Prize e do Whitbread Award, By the Sea (2001), nomeado para o Booker Prize e finalista do Los Angeles Times Book Award, e Desertion (2005), finalista do Commonwealth Writers. Vidas Seguintes (2020) foi finalista do Orwell Prize for Political Writing 2021 e nomeado para o Walter Scott Prize for Historical Fiction 2021.

Abdulrazak Gurnah é o 118.º laureado com o Nobel da Literatura – e o primeiro autor de origem tanzaniana a ser distinguido com o prémio.

A Academia Sueca elogiou a forma como a sua ficção tem demonstrado a “sua compreensão intransigente e compassiva dos efeitos do colonialismo e do destino dos refugiados no abismo entre culturas e continentes”. De todos os romances de Gurnah, são poucos os que não tem como protagonistas personagens africanas ou refugiados, reflexo da própria vida atribulada do autor.

Com a decisão de Estocolmo, Abdulrazak Gurnah passou de um escritor anónimo a uma vedeta literária.


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

14 FEVEREIRO | DIA DE S. VALENTIM

 


CARTAS DE AMOR E BURACOS NEGROS

 

Se com dolo ou embaraço releres um dia

as cartas de amor que te escrevi,

por te parecerem menos veras

sem a primeira devoção

ou desbotadas na contraluz da habituação

ou te enjoem mesmo o sentimento

ou de esfriadas to decresçam já,

sabe que é inútil queimá-las.

 

A informação codificada nos seus átomos

permanece nas cinzas

e no fumo.

Não, não te será fácil, querida,

obliterar as frases ridículas

e os ornatos pingões.

Atirasses tu com elas ao buraco negro

que a Via Láctea tem por umbigo

e nem assim alcançarias destruí-las:

unhas quânticas podem fazê-las em picadinho

na passagem pelo ralo gravítico

mas alguma da informação escapar-se-á

em forma de radiação

ou será escoada noutro universo,

e à medida que o próprio buraco se for evaporando

todo o Cosmos poderá ler

as confissões metidas na gaveta singular.

 

Se com dolo ou embaraço releres um dia

as cartas de amor que te escrevi,

podes rasgá-las, querida, ou dá-las ao fogo

com o mais que de corpóreo te aborreça

e te pareça agora caducado, sem lume.

 

Pois se até o espaço-tempo em certos astros

se desfaz

não está nele a raiz do que nos une.


Rui Lage, Firmamento


Sugestões de leitura para este dia


De um lado, uma mulher culta, independente, divorciada e já com filhos adultos. Do outro, um homem casado, estrangeiro, mais jovem, por quem ela perde completamente a cabeça. E por quem espera, dia após dia. Se o tema parece trivial, não o é, de todo, o modo como os dois anos que dura esta «paixão simples» são contados: no seu estilo frontal, acutilante, despido de vergonhas e julgamentos, Annie Ernaux desfoca a linha ténue entre ficção e autobiografia e põe na voz da narradora as confidências da história de uma relação que toma conta de tudo, que extasia e rebaixa, fonte da maior felicidade e da mais dolorosa solidão.




Naquele dia, eles conheceram-se. Como serão as vidas de Dexter e Emma naquele mesmo dia, ao longo de duas décadas?

Esta é a história de um encontro único, que junta as vidas de duas pessoas para sempre, mesmo se essas vidas implicam dois caminhos tão diferentes.










Folhas Caídas, vindas a lume em abril de 1853, e Flores sem Fruto, publicadas dezasseis anos antes, espelham a conturbada interioridade do poeta, um ser dominado por sentimentos contraditórios, dividido entre a imagem ideal do amor e a turbulência da paixão sensual.




O Leituras sugere...

...para fevereiro


O Lobo Que Não Gostava de Ler

Orianne Lallemand


Neste livro, o nosso Lobo não gosta de ler e prefere comer os livros! Sempre que tenta ler rapidamente adormece. Começa então uma aventura no País dos Livros para recuperar dez livros desaparecidos! Será que o Lobo vai conseguir encontrar todos os livros perdidos?

Uma fantástica aventura deste lobo, que mostra aos mais pequenos a importância da leitura e todos os cenários fantásticos por onde podemos viajar ao ler um livro.

Um poema...

 O VALOR DO VENTO

Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento 

O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras e

só entram nos meus versos as coisas de que gosto

O vento das árvores o vento dos cabelos

o vento do inverno o vento do verão

O vento é o melhor veículo que conheço

Só ele traz o perfume das flores só ele traz

a música que jaz à beira-mar em agosto

Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento

O vento actualmente vale oitenta escudos

Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto

 

Ruy Belo, País Possível