CARTAS DE AMOR E
BURACOS NEGROS
Se com dolo ou
embaraço releres um dia
as cartas de amor
que te escrevi,
por te parecerem
menos veras
sem a primeira
devoção
ou desbotadas na
contraluz da habituação
ou te enjoem mesmo
o sentimento
ou de esfriadas to
decresçam já,
sabe que é inútil
queimá-las.
A informação
codificada nos seus átomos
permanece nas
cinzas
e no fumo.
Não, não te será
fácil, querida,
obliterar as frases
ridículas
Atirasses tu com
elas ao buraco negro
que a Via Láctea
tem por umbigo
e nem assim
alcançarias destruí-las:
unhas quânticas
podem fazê-las em picadinho
na passagem pelo
ralo gravítico
mas alguma da
informação escapar-se-á
em forma de
radiação
ou será escoada
noutro universo,
e à medida que o
próprio buraco se for evaporando
todo o Cosmos
poderá ler
as confissões
metidas na gaveta singular.
Se com dolo ou
embaraço releres um dia
as cartas de amor
que te escrevi,
podes rasgá-las,
querida, ou dá-las ao fogo
com o mais que de
corpóreo te aborreça
e te pareça agora
caducado, sem lume.
Pois se até o
espaço-tempo em certos astros
se desfaz
não está nele a
raiz do que nos une.
Rui Lage, Firmamento
Sugestões de
leitura para este dia
De
um lado, uma mulher culta, independente, divorciada e já com filhos adultos. Do
outro, um homem casado, estrangeiro, mais jovem, por quem ela perde
completamente a cabeça. E por quem espera, dia após dia. Se o tema parece
trivial, não o é, de todo, o modo como os dois anos que dura esta «paixão simples»
são contados: no seu estilo frontal, acutilante, despido de vergonhas e
julgamentos, Annie Ernaux desfoca a linha ténue entre ficção e autobiografia e
põe na voz da narradora as confidências da história de uma relação que toma
conta de tudo, que extasia e rebaixa, fonte da maior felicidade e da mais
dolorosa solidão.
Naquele
dia, eles conheceram-se. Como serão as vidas de Dexter e Emma naquele mesmo
dia, ao longo de duas décadas?
Esta
é a história de um encontro único, que junta as vidas de duas pessoas para
sempre, mesmo se essas vidas implicam dois caminhos tão diferentes.
Folhas
Caídas, vindas a lume em abril de 1853, e Flores sem Fruto, publicadas
dezasseis anos antes, espelham a conturbada interioridade do poeta, um ser
dominado por sentimentos contraditórios, dividido entre a imagem ideal do amor
e a turbulência da paixão sensual.
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