segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

14 FEVEREIRO | DIA DE S. VALENTIM

 


CARTAS DE AMOR E BURACOS NEGROS

 

Se com dolo ou embaraço releres um dia

as cartas de amor que te escrevi,

por te parecerem menos veras

sem a primeira devoção

ou desbotadas na contraluz da habituação

ou te enjoem mesmo o sentimento

ou de esfriadas to decresçam já,

sabe que é inútil queimá-las.

 

A informação codificada nos seus átomos

permanece nas cinzas

e no fumo.

Não, não te será fácil, querida,

obliterar as frases ridículas

e os ornatos pingões.

Atirasses tu com elas ao buraco negro

que a Via Láctea tem por umbigo

e nem assim alcançarias destruí-las:

unhas quânticas podem fazê-las em picadinho

na passagem pelo ralo gravítico

mas alguma da informação escapar-se-á

em forma de radiação

ou será escoada noutro universo,

e à medida que o próprio buraco se for evaporando

todo o Cosmos poderá ler

as confissões metidas na gaveta singular.

 

Se com dolo ou embaraço releres um dia

as cartas de amor que te escrevi,

podes rasgá-las, querida, ou dá-las ao fogo

com o mais que de corpóreo te aborreça

e te pareça agora caducado, sem lume.

 

Pois se até o espaço-tempo em certos astros

se desfaz

não está nele a raiz do que nos une.


Rui Lage, Firmamento


Sugestões de leitura para este dia


De um lado, uma mulher culta, independente, divorciada e já com filhos adultos. Do outro, um homem casado, estrangeiro, mais jovem, por quem ela perde completamente a cabeça. E por quem espera, dia após dia. Se o tema parece trivial, não o é, de todo, o modo como os dois anos que dura esta «paixão simples» são contados: no seu estilo frontal, acutilante, despido de vergonhas e julgamentos, Annie Ernaux desfoca a linha ténue entre ficção e autobiografia e põe na voz da narradora as confidências da história de uma relação que toma conta de tudo, que extasia e rebaixa, fonte da maior felicidade e da mais dolorosa solidão.




Naquele dia, eles conheceram-se. Como serão as vidas de Dexter e Emma naquele mesmo dia, ao longo de duas décadas?

Esta é a história de um encontro único, que junta as vidas de duas pessoas para sempre, mesmo se essas vidas implicam dois caminhos tão diferentes.










Folhas Caídas, vindas a lume em abril de 1853, e Flores sem Fruto, publicadas dezasseis anos antes, espelham a conturbada interioridade do poeta, um ser dominado por sentimentos contraditórios, dividido entre a imagem ideal do amor e a turbulência da paixão sensual.




Sem comentários:

Enviar um comentário