segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

14 FEVEREIRO | DIA DOS NAMORADOS


A Polícia de Segurança Pública (PSP) recebeu em 2019 um total de 900 denúncias de violência entre namorados e mais de 1200 denúncias de violência entre ex-namorados. (MadreMedia / Lusa - 13 fev 2020)

Urgentemente

É urgente o amor
É urgente um barco no mar

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"


Estrela da Tarde

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca tardando-lhe o beijo morria.
Quando à boca da noite surgiste na tarde qual rosa tardia
Quando nós nos olhámos, tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos, unidos, ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia.


       Meu amor, meu amor
       Minha estrela da tarde
       Que o luar te amanheça
       E o meu corpo te guarde.
       Meu amor, meu amor
       Eu não tenho a certeza
       Se tu és a alegria
       Ou se és a tristeza.
       Meu amor, meu amor
       Eu não tenho a certeza!

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram.
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite se deram
E entre os braços da noite, de tanto se amarem, vivendo morreram.

       Meu amor, meu amor
       Minha estrela da tarde
       Que o luar te amanheça
       E o meu corpo te guarde.
       Meu amor, meu amor
       Eu não tenho a certeza
       Se tu és a alegria
       Ou se és a tristeza.
       Meu amor, meu amor
       Eu não tenho a certeza!

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso se é pranto
É por ti que adormeço e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

Ary dos Santos, in 'As Palavras das Cantigas'



Amo-te Por Todas as Razões e Mais Uma

Por todas as razões e mais uma. Esta é a resposta que costumo dar-te quando me perguntas por que razão te amo. Porque nunca existe apenas uma razão para amar alguém. Porque não pode haver nem há só uma razão para te amar.
Amo-te porque me fascinas e porque me libertas e porque fazes sentir-me bem. E porque me surpreendes e porque me sufocas e porque enches a minha alma de mar e o meu espírito de sol e o meu corpo de fadiga. E porque me confundes e porque me enfureces e porque me iluminas e porque me deslumbras.

Amo-te porque quero amar-te e porque tenho necessidade de te amar e porque amar-te é uma aventura. Amo-te porque sim mas também porque não e, quem sabe, porque talvez. E por todas as razões que sei e pelas que não sei e por aquelas que nunca virei a conhecer. E porque te conheço e porque me conheço. E porque te adivinho. Estas são todas as razões.

Mas há mais uma: porque não pode existir outra como tu.

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'


Para a Minha Mulher

Desde que a Maria João casou (oficialmente) comigo há treze anos, damos por nós a casarmo-nos um com o outro, voluntária ou involuntariamente, várias vezes por dia.

Vou contar só uma. Esta semana, quando voltávamos da praia, a Maria João estava a pentear-se e deu-me uns cabelos soltos para eu deitar pela janela do carro. Tive ciúmes que alguém pudesse apanhar os lindos cabelos dela e disse-lhe. Dei-lhes um beijinho e atirei-os ao vento. E a Maria João disse: «Agora tenho eu ciúmes que alguém apanhe o cabelo com beijinhos teus”. Casámos um com o outro nesse momento. (…) 

Casa comigo hoje, Maria João, meu amor. Vez após vez.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público (30 Set 2013)'



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Do livro para o palco


“A Viúva e o Papagaio”
 de Virgínia Woolf

Este projeto, desenvolvido pela Biblioteca da Fundação A LORD em parceria com o Agrupamento de Escolas de Lordelo, tem como objetivo complementar o estudo dos textos literários de leitura recomendada nos diferentes ciclos de estudo, promovendo o teatro, enquanto manifestação artística, junto do público escolar.
Neste âmbito, os alunos do 2º ciclo deslocaram-se ao auditório da Fundação A LORD, no dia 11 de fevereiro, para assistir à dramatização de “A Viúva e o Papagaio” de Virgínia Woolf, a cargo do grupo teatral “Caixa de Palco”.

Com um cenário minimalista, os quatro atores em palco captaram a atenção do jovem público com uma atuação expressiva, dinâmica, com alguns apontamentos humorísticos e acompanhamento musical.

No final da sessão, tempo ainda para um diálogo com os atores, satisfazendo curiosidades sobre o seu trabalho nesta peça.






sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Escritor do mês | fevereiro

Maria Dueñas
(1964/)


Maria Dueñas nasceu em Puertollano (Ciudad Real) em 1964, é casada, tem dois filhos e reside em Cartagena. Doutorada em Filologia Inglesa, é professora titular da Universidade de Murcia depois de ter já passado pela docência em várias universidades norte-americanas. É autora de trabalhos académicos e de muitos projetos educativos, culturais e editoriais.

O Tempo entre Costuras (2009) foi o seu primeiro romance. Foi traduzido para mais de vinte e cinco idiomas e adaptado à televisão, tendo sido já exibido em Portugal. Seguiram-se Recomeçar (2014), As vinhas de La Templanza (2019) e As Filhas do Capitão (2019).




"Em poucos meses tinha batido com a porta na cara a todo o meu passado. Tinha deixado de ser uma humilde costureirinha para me converter, de maneira alternativa ou paralela, em várias mulheres diferentes. Candidata incipiente a funcionária pública, beneficiária do património de um grande industrial, amante papa-léguas de um desavergonhado, iludida aspirante a diretora de uma empresa argentina, mãe frustrada de um filho não nascido, suspeita de burla e de roubo, cheia de dívidas até aos cabelos e ocasional traficante de armas camuflada sob a aparência de uma inocente nativa. Em menos tempo ainda, deveria adotar uma nova personalidade, porque já nenhuma das anteriores me servia."

In O Tempo entre Costuras, Porto Editora, cap. 13, pág. 152

O Leituras sugere...





...para fevereiro


Astérix - A Filha de Vercingétorix

Jean-Yves Ferri; Ilustração: Didier Conrad


Escoltada por dois chefes da região de Arverne, uma misteriosa adolescente acaba de chegar à aldeia. Ela é procurada por César e pelos seus legionários, e há boas razões para isso: na aldeia, sussurra-se que o pai da visitante é nada mais nada menos do que… o próprio Vercingétorix, o grande chefe gaulês outrora derrotado em Alésia!

Se gostas de banda desenhada com humor e muita ação, então lê esta nova aventura de Astérix. Um álbum cativante assinado pela nova dupla de autores (sucessores de Goscinny e Uderzo) que já foi responsável pelos três álbuns anteriores (“Astérix entre os Pictos”, “O Papiro de César” e “Astérix e a Transitálica”).

Um poema...

SAUDADE

quer dizer nostalgia, fiquei a saber, mas também
nostalgia do que nunca foi. Mas não é
a mesma coisa? Num café
do Rio moscas coroam o meu copo.

Como te terias deliciado com isto: o empregado
a escurecer de suor a camisa de rede. Crianças
a trotar de fatinho ou calção comprido arrastando
brinquedos e toalhas rumo à praia. Falamos,

ou falo eu, imagino a tua resposta, o calor a toldar-nos a vista.
Aqui, outra vez, o desgosto vertido na sua mais cruel tradução:
o meu tu imaginado é tudo o que me resta de ti.

John Freeman, Mapas