sexta-feira, 6 de julho de 2018

Escritor do mês | julho

HARUKI MURAKAMI
(1949/…)


Murakami nasceu em Quioto pouco tempo após a Segunda Guerra Mundial, filho de um sacerdote budista com a filha de um comerciante de Osaka, com os quais aprendeu literatura japonesa. Apesar de nascido em Quioto, passou a maior parte de sua juventude em Shukugawa (Nishinomiya), Ashiya e Kobe.

Frequentou a Universidade de Waseda, em Tóquio, dedicando-se sobretudo aos estudos teatrais. Antes de terminar o curso, abriu um bar de jazz chamado Peter Cat, à frente do qual se manteve entre 1974 e 1982.

Em 1986, partiu para a Europa e depois para os EUA, onde acabaria por se fixar.

Haruki Murakami é um dos escritores japoneses contemporâneos mais divulgados em todo o mundo sendo, simultaneamente, aplaudido pela crítica, que o considera um dos «grandes romancistas vivos» (The Guardian) e a «mais peculiar e sedutora voz da moderna ficção» (Los Angeles Times). 

Além de Sputnik, Meu Amor, Kafka à Beira-Mar, Dance, Dance, Dance e A Wild Sheep Chase, que recebeu o Prémio Noma destinado a novos escritores, Murakami é ainda autor, entre outros, de Hard-boiled Wonderland and the End of the World (distinguido com o prestigiado Prémio Tanizaki) e, mais recentemente, de Blind Willow, Sleeping Woman, a sua terceira colectânea de contos, distinguida com o Frank O'Connor International Short Story Award.

BIBLIOGRAFIA
Homens sem Mulheres, Casa das Letras, 2017.
Ouve a Canção do Vento e Flíper 1973, Casa das Letras, 2016.
Os Assaltos à Padaria. Casa das Letras, 2015. 
A peregrinação do rapaz sem cor Casa das Letras, 2014. 
Sono, Casa das Letras, 2013.
1Q84. Casa das Letras, 2011. 
O elefante evapora-se. Casa das Letras, 2010
Auto-retrato do escritor enquanto corredor de fundo. Casa das Letras, 2009. 
A sul da fronteira, a oeste do sol. Casa das Letras, 2009. 
After Dark - Os passageiros da noite. Casa das Letras, 2008. 
A rapariga que inventou um sonho. Casa das Letras, 2008. 
Dança, dança, dança. Casa das Letras, 2007. 
Em busca do Carneiro Selvagem. Casa das Letras, 2007. 
Underground - O atentado de Tóquio e a mentalidade japonesa. Tinta da China, 2006. 
Crónica do pássaro de corda Casa das Letras, 2006. 
Kafka à beira-mar. Casa das Letras, 2006. 
Sputnik, meu amor. Casa das Letras, 2005. 
Norwegian Wood. Civilização Editora, 2004. 
Hard-Boiled Wonderland and the End of the World, 1985.  




“Ser burro ou ser brilhante não vem ao caso. O que importa é que saibas ver o mundo pelos teus próprios olhos.”

“- Não é só a questão de Nakata ser burro. Nakata também é vazio por dentro. Só agora é que se deu conta. Nakata é como uma biblioteca sem um único livro. Antes não era assim. Dentro dele Nakata costumava ter livros. Durante muito tempo não soube isso, mas agora tudo voltou à memória. Nakata costumava ser normal, igual às outras pessoas. Mas aconteceu uma coisa que o transformou numa espécie de invólucro sem nada lá dentro.”

In “Kafka à beira-mar”



O Leituras sugere...





...para julho 


OPERAÇÃO MARMELADA

Manuela Ribeiro


A ação passa-se em Odivelas. E esta história começou numas férias de Carnaval de Miguel e de Ricardo, num percurso de surpresa e de reflexão que os levou à dúvida. E a dúvida é a melhor das companhias para um leitor interessado. Quando os dois amigos souberam que um oficial da força área foi raptado, desconfiaram de uns estranhos mascarados que pareciam andar por tudo quanto é sítio. Apesar de não terem provas, tudo levava aos mascarados. Os dois resolveram o mistério.

O monumento ao Senhor Roubado e o Castelinho (onde os jovens costumam encontrar-se para conviver e, à volta, fazerem skate) estão no roteiro da viagem da história que “Operação Marmelada” nos conta. No meio de toda a agitação surge o produto de referência da cidade (e do Município) de Odivelas: a marmelada. Um livro com páginas cheias de surpresa e emoção. 

Público-alvo: crianças 9/12 anos

Um poema...


Loira
Eu descia o Chiado lentamente
Parando junto às montras dos livreiros
Quando passaste irônica e insolente,
Mal pousando no chão os pés ligeiros.

O céu nublado ameaçava chuva,
Saía gente fina de uma igreja;
Destacavam no traje de viúva
Teus cabelos de um louro de cerveja.

E a mim, um desgraçado a quem seduzem
Comparações estranhas, sem razão,
Lembrou-me este contraste o que produzem
Os galões sobre os panos de um caixão.

Eu buscava uma rima bem intensa
Para findar uns versos com amor;
Olhaste-me com cega indiferença
Através do lorgnon provocador.

Detinham-se a medir tua elegância
Os dandies com aprumo e galhardia;
Segui-te humildemente e a distância,
Não fosses suspeitar que te seguia.

E pensava de longe, triste e pobre,
Desciam pela rua umas varinas
Como podias conservar-te sobre
O salto exagerado das botinas.

E tu, sempre febril, sempre inquieta,
Havia pela rua uns charcos de água
Ergueste um pouco a saia sobre a anágua
De um tecido ligeiro e violeta.

Adorável! Na idéia de que agora
A branda anágua a levantasse o vento
Descobrindo uma curva sedutora,
Cada vez caminhava mais atento.

Mas súbito parei, sentindo bem
Ser loucura seguir-te com empenho,
A ti que és nobre e rica, que és alguém,
Eu que de nada valho e nada tenho.

Correu-me pelo corpo um calafrio,
E tive para o teu perfil ligeiro
Este olhar resignado do vadio
Que fita a exposição de um confeiteiro.

Vi perder-se na turba que passava
O teu cabelo de ouro que faz mal;
Não achei essa rima que buscava,
Mas compus este quadro natural.

Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'