Kazuo Ishiguro
(1954/ )
Kazuo
Ishiguro nasceu em Nagasáqui, Japão, em 1954, e vive na Grã-Bretanha desde os
cinco anos, quando
o seu pai foi aceite como investigador no National Institute of Oceanography.
Educado numa escola de
rapazes em Surrey, frequentou, mais tarde, a Universidade de Kent, na Cantuária,
onde se especializou em língua inglesa e filosofia. Tirou o mestrado em escrita
criativa na Universidade de East Anglia, em 1980. O seu primeiro emprego,
depois de ter concluído os estudos superiores, foi o de assistente social nos bairros
mais pobres de Londres.
Em 1995 foi feito Oficial da Ordem do Império
Britânico, por serviços prestados à literatura, e em 1988 recebeu a
condecoração honorífica francesa de Chevalier de L’Ordre des Arts et des
Lettres.
No total, Ishiguro já conta
com nove obras publicadas — a primeira, “Introductions 7: Stories by New
Writers”, foi editada em 1981 e a mais recente, “O Gigante Enterrado”, chegou
às lojas em 2015. Outros títulos publicados: Os Despojos do Dia (1989, vencedor do Booker Prize; adaptado ao
cinema), Os Inconsolados (1995, vencedor do Cheltenham
Prize), Quando Éramos Órfãos (2000, nomeado para o Booker
Prize), Nunca me Deixes (2005, nomeado para o Booker Prize;
adaptado ao cinema), Nocturnos (2009). É, ainda, autor de argumentos para cinema.
Foi considerado
pela organização sueca dos Prémios Nobel “um
romancista absolutamente brilhante” que “desenvolveu um universo estético só
seu” em “romances de grande força emocional”.
É
o vencedor da edição de 2017 do Prémio Nobel da Literatura.
Creio
que caminhava um pouco ao longo da berma da estrada, espreitando pelo meio do
arvoredo, na esperança de lobrigar uma vista melhor, quando ouvi uma voz atrás
de mim. Até essa altura, evidentemente, julgara-me completamente só, e por isso
virei-me com alguma surpresa. Um pouco acima da estrada, no lado oposto, vi o
começo de um carreiro que desaparecia, íngreme, entre as moitas. Sentado numa
grande pedra, que assinalava o local, encontrava-se um homem magro, de cabelo
branco e boné de fazenda, a fumar cachimbo. (…)
-Perguntava,
aqui, aos meus botões- disse ele, quando me aproximei- se as suas pernas
estariam em forma.
-Como?
O
indivíduo apontou para o cimo do carreiro.
-É
preciso ter um bom par de pernas e de pulmões para ir lá acima. Eu não tenho
nem uma coisa nem outra; por isso, fico cá em baixo. Mas, se estivesse em
melhor estado de saúde, era lá em cima que estaria. Há um lugarzinho agradável
com um banco e tudo. E acredite que não encontrará uma vista melhor em lugar
algum de toda a Inglaterra.
-Se
o que diz é verdade- respondi, - acho que prefiro ficar aqui. Estou no início
de uma viagem de automóvel, durante a qual espero encontrar muitas vistas
esplêndidas. Ver a primeira antes de ter, a bem dizer, começado seria algo
prematuro.
Os
Despojos do dia, cap. 1º, pág. 29