José Eduardo Agualusa
(1960-…)
Na última tarde da sua
vida, quando depois do costumeiro almoço de fungi e quizaca se estendeu na
esteira para gozar a sesta, o velho Caxombo sonhou com o mar.(…) O sol
declinava quando, numa angústia crescente, se deu conta de que qualquer coisa
estava errada e ele não sabia o que era. De súbito enchia tudo. Um silêncio
espesso como uma noite sem lua. Não havia pássaros. Todos os pássaros se tinham
ido embora. (…).
Então Caxombo dobrou-se
sobre si mesmo, como um bicho-de-conta, e enterrando a cabeça entre as mãos
fechou os olhos.
- Estou a sonhar –
gemeu baixinho – é claro que estou a sonhar.
In D. Nicolau
Água-Rosada e outras estórias verdadeiras e inverosímeis
José Eduardo Agualusa [Alves da Cunha] nasceu no Huambo,
Angola. Estudou Silvicultura e Agronomia em Lisboa. Os seus livros estão
traduzidos para mais uma dezena de idiomas. Também escreveu várias peças de
teatro: “Geração W”, “Chovem amores na Rua do Matador”, juntamente com Mia
Couto, e o monólogo “Aquela mulher”. Beneficiou de três bolsas de criação
literária: a primeira, concedida pelo Centro Nacional de Cultura em 1997 para
escrever «Nação crioula», a segunda em 2000, concedida pela Fundação Oriente,
que lhe permitiu visitar Goa durante 3 meses e na sequência da qual escreveu
“Um estranho em Goa” e a terceira em 2001, concedida pela instituição alemã
Deutscher Akademischer Austauschdienst. Graças a esta bolsa viveu um ano em
Berlim, e foi lá que escreveu «O ano em que Zumbi tomou o rio». No início de
2009 a convite da Fundação Holandesa para a Literatura, passou dois meses em
Amsterdam na Residência para Escritores, onde acabou de escrever o seu romance,
«Barroco tropical».
Escreveu crónicas para a revista portuguesa LER e o portal Rede Angola. Escreve crónicas para o jornal brasileiro O Globo e para a revista portuguesa Visão. Na RDP África é realizador do programa A Hora das Cigarras, sobre música e poesia africana.
É membro da União de Escritores Angolanos. Em 2006 lançou,
juntamente com Conceição Lopes e Fátima Otero, a editora brasileira Língua
Geral, dedicada exclusivamente a autores de língua portuguesa.
OBRA
D. Nicolau Água-Rosada e outras estórias verdadeiras e
inverosímeis (1990); Fronteiras perdidas, contos para viajar (1999); Estranhões
e Bizarrocos (2000); A substância do amor e outras crónicas (2000); Um estranho
em Goa (2000); O ano em que Zumbi tomou o rio (2002); O homem que parecia um
domingo (2002); Catálogo de sombras (2003); O vendedor de passados (2004); A
girafa que comia estrelas (2005); As mulheres de meu pai (2007); Passageiros em
trânsito (2007); Na rota das especiarias (2008); Barroco tropical (2009);
Milagrário pessoal (2010); Teoria geral do esquecimento (2012); Os vivos e os
outros (2019).
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