quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Escritor do mês | outubro


GERMANO ALMEIDA
(1945/ )


“Eu expresso a cultura cabo-verdiana usando a língua portuguesa”



Germano Almeida nasceu na ilha da Boa Vista em 1945. Licenciou-se em Direito na Universidade Clássica de Lisboa. Vive em São Vicente onde, desde 1979, exerce a profissão de advogado. 

Autor de uma vasta obra editada em Portugal, toda ela escrita em português, publica as primeiras estórias na revista Ponto & Vírgula, assinadas com o pseudónimo de Romualdo Cruz. Estas estórias foram publicadas em 1994 com o título A Ilha Fantástica, que, juntamente com A Família Trago, 1998, recriam os anos de infância e o ambiente social e familiar na ilha da Boa Vista. Mas o primeiro romance do autor foi O Testamento do Sr. Napomuceno da Silva Araújo, em 1989, que marca a rutura com os tradicionais temas cabo-verdianos. O Meu Poeta, de 1990, Estórias de Dentro de Casa, de 1996, A Morte do Meu Poeta, de 1998, As Memórias de Um Espírito, de 2001 e O Mar na Lajinha, de 2004, formam o que se pode considerar o ciclo mindelense da obra do autor. Mais recentes são os livros A Morte do Ouvidor, de 2010, e Do Monte Cara Vê-se o Mundo, de 2014, Regresso ao Paraíso, 2015 e O Fiel Defunto, 2018.

Tem obras publicadas no Brasil, França, Espanha, Itália, Alemanha, Suécia, Holanda, Noruega e Dinamarca, Cuba, Estados Unidos, Bulgária, Suíça.

Em 2018 vence o Prémio Camões. O júri desta edição destacou a ironia na obra de Germano Almeida, uma obra, lê-se em comunicado, “onde se equilibram a memória, o testemunho e a imaginação, a inventividade narrativa alia-se ao virtuosismo da ironia no exercício de liberdade, de ética e de crítica. Conjugando a experiência insular e da diáspora cabo-verdiana, a obra de Germano Almeida, atinge uma universalidade exemplar no que respeita à plasticidade da língua portuguesa”.



Bibliografia

1989, O Testamento do Sr. Napumoceno
1990, O Meu Poeta
1992, O Dia das Calças Roladas
1994, A Ilha Fantástica
1995, Os Dois Irmãos
1998, A Família Trago
1998, A Morte do Meu Poeta
1999, Dona Pura e os Camaradas de Abril
1999, Estóreas Contadas
2000, Estóreas de dentro de Casa
2001, Memórias de um Espírito
2004, Cabo Verde. Viagem pela História das Ilhas
2004, O Mar na Lajinha
2006, Eva
2010, A Morte do Ouvidor 
2014, Do Monte Cara Vê-se o Mundo 
2015, Regresso ao Paraíso 
2018, O Fiel Defunto 

Uma nova luz sobre a vida e pessoa do ilustre extinto, foi como o Sr. Américo Fonseca, já a caminho de Lombo de Tanque, definiu a abertura do testamento do Sr. Napumoceno. E o Sr. Armando Lima, com o seu rigor de contabilista aposentado, precisou que a luz parecia total. E andando ao lado do Sr. Fonseca ia filosofando que nenhum homem poderá alguma vez pretender conhecer outro em toda a extensão e profundidade do seu mistério. Porque quem na verdade alguma vez sonhou que Napumoceno da Silva Araújo poderia ser capaz de aproveitar das idas da sua mulher de limpeza ao escritório e entrar de amores com ela pelos cantos da divisão e por cima da secretária, ao ponto de chegar ao preciosismo de lhe fazer um filho, melhor dizendo uma filha, em cima do tampo de vidro! Dando uma pequena gargalhada, o Sr. Fonseca concordou com o amigo e voltou a rir-se do facto de mesmo a eles, íntimos do falecido, jamais lhes ter passado pela cabeça ele ter tido uma amante quanto mais um fruto. Claro que agora vai aparecer muita gente a apontar semelhanças, a dizer que está na cara, são os mesmos olhos aguados, etc., mas a verdade é que durante 25 anos, se alguém desconfiou não se atreveu a dizer nem à boca pequena que ele tinha um filho, melhor, uma filha. 

in O Testamento do Sr. Napomuceno da Silva Araújo, cap. II



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