21 de março | Dia Mundial da Poesia
21 de março | Dia Mundial da Árvore
POEMA DAS ÁRVORES
As árvores crescem
sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada.
Pouco a pouco
se levantam do chão,
se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam
ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem
folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as
folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as
flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão
sementes,
e as sementes
preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós,
a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem
ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra
coisa.
Contactam-se,
penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e
vão à vida
como se nada fosse.
As árvores, não.
Solitárias, as
árvores,
exauram terra e sol
silenciosamente.
Não pensam, não
suspiram, não se queixam.
Estendem os braços
como se implorassem;
com o vento soltam
ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa
não é sua.
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos
montes, nas florestas,
A crescer e a florir
sem consciência.
Virtude vegetal viver
a sós
E entretanto dar
flores.
António Gedeão
A UM NEGRILHO
Na terra onde nasci
há um só poeta
Os meus versos são folhas dos seus ramos.
Quando chego de longe e conversamos,
É ele que me revela o mundo visitado.
Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
E a luz do sol aceso ou apagado
É nos seus olhos que se vê pousada.
Esse poeta és tu, mestre da inquietação Serena!
Os meus versos são folhas dos seus ramos.
Quando chego de longe e conversamos,
É ele que me revela o mundo visitado.
Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
E a luz do sol aceso ou apagado
É nos seus olhos que se vê pousada.
Esse poeta és tu, mestre da inquietação Serena!
Tu,
imortal avena
Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
Redil de estrelas ao luar maninho.
Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!
Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
Redil de estrelas ao luar maninho.
Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!
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