terça-feira, 19 de novembro de 2013

DORIS LESSING (1919/2013)


A escritora britânica Doris Lessing, que recebeu em 2007 o Nobel da Literatura, morreu este domingo aos 94 anos.
Autora de mais de 50 romances e com uma obra diversificada, Lessing foi descrita pela Academia Sueca, que lhe atribuiu o Prémio Nobel da Literatura em 2007, como "uma épica da experiência feminina que, com ceticismo, fogo e poder visionário, sujeitou uma civilização ao escrutínio". 
Doris Tayler, que como escritora veio a adotar o apelido do seu segundo marido, Lessing, nasceu a 22 de Outubro de 1919 em Kermanshah, no Curdistão iraniano, então integrado no reino da Pérsia. O pai, o capitão Alfred Tayler, tinha perdido uma perna na primeira guerra e conhecera a futura mãe de Doris, a enfermeira Emily McVeagh, no hospital onde recuperava da amputação. Quando Doris nasceu, os pais viviam em Kermanshah, onde o ex-militar conseguira emprego, trabalhando como escriturário num banco.  
Em 1925, a família mudou-se para a colónia britânica da Rodésia do Sul, onde Tayler acreditava poder enriquecer plantando e vendendo milho. Investiu as poupanças na compra de uma grande extensão de terreno, mas o negócio revelou-se ruinoso e a família passou dificuldades. Doris estudou numa escola dominicana, em Salisbúria (hoje Harare, no Zimbabwe), mas abandonou os estudos aos 14 anos, tendo continuado a sua instrução por conta própria, lendo romancistas ingleses e russos.
Um ano depois abandona também a casa paterna e sobrevive trabalhando como enfermeira, criada, telefonista, secretária.
Com dois casamentos falhados atrás, Doris Lessing chega a Londres apenas com o filho que tivera do segundo casamento, Peter.
Nesta altura, o objetivo da escritora é publicar o seu romance de estreia, uma história situada na Rodésia e centrada numa mulher casada com um colono branco, pobre e fraco. A protagonista, espécie de Lady Chatterley inter-racial, tem uma aventura com o seu criado africano, Moses, que acabará por a matar. O romance, publicado em 1950 com o título The Grass is Singing(A Erva Canta na edição portuguesa), foi atacadíssimo na Rodésia e na África do Sul. Mesmo no Reino Unido, Doris Lessing só atinge algum sucesso comercial e consagração crítica nos anos 60, com livros como The Golden Notebook, ousada experiência ficcional em torno de uma mulher, Anna Wulf, que procura uma espécie de honestidade radical, que a liberte da hipocrisia e da anestesia emocional que vê na sua geração.
Boa parte da ficção de Lessing tem uma forte dimensão autobiográfica, e são muitos os livros que evocam a suas experiências em África, desde as memórias de infância, até às questões sociais e políticas pelas quais se interessou desde muito nova. O modo como os seus romances e contos descrevem as injustiças raciais e expõem os podres da presença colonial britânica em África fizeram com que fosse oficialmente proibida, em 1956, de entrar na Rodésia do Sul.
Da sua vastíssima bibliografia, que lhe valeu, em 2007, o Prémio Nobel da Literatura, podem destacar-se ainda O Verão antes das Trevas  (1973), a pentalogia de ficção científica Canopus em Argos  (1979-1983) ou A Boa Terrorista  (1985), relato perpassado de ironia da vida de uma militante de esquerda, no qual Lessing mostra como a fronteira entre as convicções ideológicas e a prática terrorista pode tornar-se perigosamente delgada. É ainda autora de uma série de notáveis livros sobre gatos, que misturam ficção com textos de vários géneros.
O escritor sul-africano J.M. Coetzee, que conhece bem o mundo que moldou a obra de Lessing e que a precedeu quatro anos na lista dos prémios Nobel da Literatura, chamou-lhe "uma das maiores romancistas visionárias do nosso tempo".


A Biblioteca da Fundação A LORD homenageou-a na sua rubrica Escritor do mês

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