segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Um poema...

Naturalidade

Europeu, me dizem. Eivam-me de literatura e doutrina
europeias e europeu me chamam.

Não sei se o que escrevo tem raiz a raiz de algum
pensamento europeu. É provável... Não. É certo,
mas africano sou. Pulsa-me o coração ao ritmo dolente
desta luz e deste quebranto. Trago no sangue uma amplidão de coordenadas geográficas e mar Índico.
Rosas não me dizem nada,
caso-me mais à agrura das micaias
e ao silêncio longo e roxo das tardes
com gritos de aves estranhas.
Chamais-me europeu? Pronto, calo-me. Mas dentro de mim há savanas de aridez
e planuras sem fim com longos rios langues e sinuosos,
uma fita de fumo vertical,
um negro e uma viola estalando.
Rui Knopfli


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