...para maio
O Livro de Marianinha
Aquilino Ribeiro
O Livro de Marianinha constitui um documento humano extraordinário, pois ilustra a ternura do autor pela sua primeira neta, a quem ele é dedicado, deixando transparecer a cumplicidade que une avós e netos.
Há um sem número de imagens, palavras, cheiros, sons e sabores, enfim, os ruídos de um mundo rural que chegam a uma menina lisboeta, mostrando que as diferenças culturais não são estanques, mas complementares.
“Este livro, Marianinha, leva o teu nome porque foste tu a musa – para empregar a linguagem usada nos bons velhos tempos do metro e da rima - que o inspirou. Para o meu amor pequenino, compus agora estas prosas rimadas.”
É esta dedicatória dirigida à neta Mariana que inicia a obra.
(…)
"Trepávamos pelas árvores aos ninhos,
mas eram mais finos do que nós, os passarinhos,
e íamos declamando à troca-baldroca:
--Eu sei o ninho
dum carrapichinho…
--E eu sei um ninho de gafamagafe
com cinco gafamagafinhos.
Armaram o laço à gafamagafe
e ficaram desgafamagafinhos
os cinco gafamagafinhos.
Caçávamos os insetos estridulantes,
cigarras, ralos e alguns volantes:
Mestre besouro,
nem prata nem ouro,
fungador
como um toiro;
nas suas horas dançador
e acrobata-saltador,
se dá na vidraça,
não a estilhaça
mas faz-lhes dar estoiro
como um pelouro.
(…)
(pg.44)
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