Rosa Lobato de Faria
(1932-2010)
"Se
eu morrer de manhã
abre
a janela devagar
e
olha com rigor o dia que não tenho.
Não
me lamentes. Eu não me entristeço:
ter
tido a morte é mais do que mereço
se
nem conheço a noite de que venho.
Deixa
entrar pela casa um pouco de ar
e
um pedaço de céu
-
o único que sei.
Talvez
um pássaro me estenda a asa
que
não saber voar
foi
sempre a minha lei.
Não
busques o meu hálito no espelho.
Não
chames o meu nome que eu não venho
e
do mistério nada te direi.
Diz
que não estou se alguém bater à porta.
Deixa
que eu faça o meu papel de morta
pois não estar
é da morte quanto sei."
Rosa Maria de Bettencourt Rodrigues Lobato de Faria, escritora,
letrista e actriz, nasceu a 20 de Abril e faleceu no dia 2 de Fevereiro em
Lisboa, devido a uma grave anemia. Filha de um oficial da Marinha, a sua
infância e adolescência decorreu entre Lisboa e Alpalhão, no Alentejo. Desde
cedo, sentiu-se atraída pela literatura e pela representação. A escrita esteve
presente desde a infância, quando escreveu os seus primeiros poemas; aos 11
anos, subiu ao palco pela primeira vez para recitar poesia. Enveredou pela
representação ao participar em séries televisivas e novelas como “Cobardias”,
“Nem o pai morre nem a gente almoça”, “Vila Faia”, “Origens”; fez também parte
do elenco de filmes como: Tráfico, O vestido Cor de Fogo; na
poesia, foi autora de A Gaveta de Baixo, longo poema inédito, estando o
resto da sua obra reunida no volume Poemas Escolhidos e Dispersos; como
letrista, compôs a letra de várias músicas, sendo quatro delas premiadas com o
primeiro lugar em edições do Festival da Canção: “Amor de água fresca”, “Chamar
a música”, “Baunilha e Chocolate” e “ Antes do Adeus”. A propósito do seu
primeiro romance, “O Pranto de Lúcifer”, Rosa Lobato contou numa entrevista:
“E, um dia, quando eu tinha 63 anos, Deus quis que eu nascesse
de novo. Contaram-me uma história e fiquei a pensar nela. Aquela história não
me largava a cabeça. E eu dizia para mim: isto é um conto, tenho que escrever
este conto, senão não me vejo livre desta maçada. E escrevi. Quando reparei
tinha 240 páginas A4 e pensei: isto se calhar é um bocadinho mais que um conto.
Efectivamente,
era um romance.”
Rosa
Lobato, senhora de uma forte personalidade, impunha-se pelo seu porte distinto,
pelo espírito perfeccionista, pelo entusiasmo que punha em todos os seus
trabalhos.
OBRA
Poesia : Poemas Escolhidos e Dispersos (1997); romance: O Pranto de Lúcifer (1995); Os três casamentos de Camilla (1997); O Prenúncio das Águas (1999), galardoado com o Prémio Máxima de Literatura 2000; A Trança de Inês (2001); O sétimo véu (2003); Os linhos da avó (2004); A flor de sal (2005); A alma trocada (2007); A estrela de Gonçalo Enes (2008); As esquinas do tempo (2008); A menina e o cisne (ed. póstuma); publicou ainda alguns contos infantis.
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