quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Um poema...

SILÊNCIO

 

Há momentos em que tudo o que desejo

é o silêncio e seu bálsamo. Momentos

que a própria música conspurcaria.

 

Mas há silêncio e silêncio. O que apeteço

não é o silêncio que alguma autoridade

decreta, seja direção-geral, escola, igreja.

 

O silêncio que ambiciono há-de ser

sereno como nuvens e ervas bravas

e água em repouso e asas imóveis

de borboleta.

 

Há-de ser como o doce cansaço

que, depois que o vento tem passado,

fica a cintilar sobre as coisas

que o vento alvoroçou.

 

A. M. Pires Cabral, Caderneta de Lembranças



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