sexta-feira, 23 de abril de 2021

25 de Abril | Dia da Liberdade

 


A data celebra a revolta dos militares portugueses, que a 25 de abril de 1974 levaram a cabo um golpe de Estado militar com o objetivo de acabar com a ditadura imposta por Salazar durante 41 anos.

O símbolo do dia 25 de abril é o cravo, porque nesse dia uma mulher ofereceu cravos aos soldados em sinal de agradecimento. Em comemoração, os soldados colocaram as flores recebidas nos canos das suas armas, o que representava a vitória praticamente sem violência.

Desta forma, o dia 25 de abril é conhecido como o Dia da Liberdade em Portugal e o dia da Revolução dos Cravos, sendo um feriado nacional onde se recorda a importância da liberdade no país.


POEMAS DE ABRIL

Este dia é um canteiro

com flores todo o ano

e veleiros lá ao largo

navegando a todo o pano.

E assim se lembra outro dia febril

que em tempos mudou a história

numa madrugada de abril,

quando os meninos de hoje

ainda não tinham nascido

e a nossa liberdade

era um fruto prometido,

tantas vezes proibido,

que tinha o sabor secreto

da esperança e do afecto

e dos amigos todos juntos

debaixo do mesmo tecto.

 

José Jorge Letria in O livro dos dias




CANTIGA DE ABRIL

 Às Forças Armadas e ao povo de Portugal

«Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade»

J. de S.

 

Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

 

Quase, quase cinquenta anos

reinaram neste pais,

e conta de tantos danos,

de tantos crimes e enganos,

chegava até à raiz.

 

Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

 

Tantos morreram sem ver

o dia do despertar!

Tantos sem poder saber

com que letras escrever,

com que palavras gritar!

 

Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

 

Essa paz de cemitério

toda prisão ou censura,

e o poder feito galdério.

sem limite e sem cautério,

todo embófia e sinecura.

 

Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

 

Esses ricos sem vergonha,

esses pobres sem futuro,

essa emigração medonha,

e a tristeza uma peçonha

envenenando o ar puro.

 

Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

 

Essas guerras de além-mar

gastando as armas e a gente,

esse morrer e matar

sem sinal de se acabar

por politica demente.

 

Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

 

Esse perder-se no mundo

o nome de Portugal,

essa amargura sem fundo,

só miséria sem segundo,

só desespero fatal.

 

Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

 

Quase, quase cinquenta anos

durou esta eternidade,

numa sombra de gusanos

e em negócios de ciganos,

entre mentira e maldade.

 

Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

 

Saem tanques para a rua,

sai o povo logo atrás:

estala enfim altiva e nua,

com força que não recua,

a verdade mais veraz.

 

Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

 

26-28(?)/4/1974

Obras de Jorge de Sena

"40 anos de servidão"

Edições 70, 1989

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