segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Um poema...

Tinha nevado. Lembro-me

de música saindo de uma janela aberta.

 

Vem a mim, dizia o mundo.

Não significa

que o fizesse com frases

mas era assim que eu intuía a beleza.

Aurora. Uma película de humidade

sobre cada ser vivo. Poças de luz fria

formavam-se nas sarjetas.

 

Eu esperava

na soleira,

por mais ridículo que pareça agora.

 

O que outros encontravam na arte,

encontrava eu na natureza. O que outros encontravam

no amor humano, encontrava eu na natureza.

Muito simples. Mas não havia nenhuma voz ali.

 

Louise Glück, Averno


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