quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

90 anos da morte de Florbela Espanca

 (1894/1930)

O MEU ORGULHO

Lembro-me o que fui dantes. Quem me dera

Não me lembrar! Em tardes dolorosas

Lembro-me que fui a Primavera

Que em muros velhos faz nascer as rosas!

As minhas mãos outrora carinhosas

Pairavam como pombas... Quem soubera

Porque tudo passou e foi quimera,

E porque os muros velhos não dão rosas!

O que eu mais amo é que mais me esquece...

E eu sonho: "Quem olvida não merece..."

E já não fico tão abandonada!

Sinto que valho mais, mais pobrezinha:

Que também é orgulho ser sozinha,

E também é nobreza não ter nada!

Florbela Espanca, em "Livro de Sóror Saudade"


(Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa a 8 de dezembro de 1894 e faleceu em Matosinhos a 8 de dezembro de 1930)

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