quinta-feira, 9 de abril de 2020

Escritor do mês | abril

OLGA TOKARCZUK
(1962/)


Prémio Nobel da Literatura 2018

Acredito numa literatura capaz de unir as pessoas e mostrar o quão semelhantes somos, que nos torna conscientes do facto de estarmos ligados por fios invisíveis. Que conta a história do mundo como se este fosse um todo vivo e uno, desenvolvendo-se de forma constante à frente dos nossos olhos, e no qual nós temos um pequeno, mas poderoso papel.”
Olga Tokarczuk

Olga Tokarczuk nasceu em Sulechów, uma pequena cidade polaca, em 1962. Feminista e ecologista, defensora dos animais e dos direitos LGBT+, Olga Tokarczuk é uma das mais jovens laureadas do Nobel de Literatura. Filha de professores, viveu os tempos da cortina de ferro, do comunismo e da guerra fria, mas também do punk e da lenta abertura.

Formada em Psicologia, publicou o seu primeiro livro em 1989, uma coletânea de poesia intitulada Miasta w lustraché (Cidade em espelho), seguindo-se os romances E. E. e Prawiek i inne czasy ((Primitivo e Outros Tempos, sendo que Primitivo é também o nome da cidade imaginária), tendo sido este último um sucesso.

A partir daí, a sua prosa afastou-se da narrativa mais convencional, aproximando-se da prosa breve e do ensaio. Uma das melhores e mais apreciadas autoras de hoje, Olga Tokarczuk tem sido alvo de várias distinções, nacionais e internacionais. Recebeu por duas vezes o mais importante prémio literário do seu país, o prémio Nike; em 2018, foi finalista do prémio Fémina Estrangeiro e vencedora do Prémio Internacional Man Booker. Os seus livros estão traduzidos em trinta línguas.

Livros editados em Portugal



CONDUZ O TEU ARADO SOBRE OS OSSOS DOS MORTOS

Numa remota aldeia polaca, a excêntrica Janina Duszejko, professora reformada, divide os seus dias a traduzir a poesia de William Blake e a observar os sinais da astrologia, fazendo por manter-se afastada das pessoas e próxima dos animais, cuja companhia prefere; mas a pacatez dos seus dias vê-se interrompida quando começam a aparecer mortos vários membros do clube de caça local. Certa de encontrar respostas, Janina decide lançar-se na investigação do caso, chegando a uma estranha teoria que espalhará o terror pela comunidade.

Sob a máscara de policial noir ou fábula macabra, Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos é um romance mordaz e desconcertante que questiona a nossa posição acerca dos direitos dos animais e responsabilidade sobre a natureza, bem como todas as ideias preconcebidas sobre a loucura, a justiça e a tradição.

“O mundo é uma prisão cheia de sofrimento, construída de modo que, para se sobreviver, seja preciso infligir dor a outros. (…) Que mundo é este? Um corpo transformado em calçado, em almôndegas, em salsichas, em tapete estendido junto à cama, em caldo feito com os ossos de outro ser… Sapatos, sofás, malas de pendurar ao ombro feitos da barriga de outros seres, aquecer-se à custa do pelo de outrem, comer o corpo de outrem, cortá-lo aos pedaços e fritá-lo no óleo…. Será verdade? Será possível tal pesadelo macabro, tamanha matança, cruel, desapaixonada, mecânica, sem pesos na consciência, sem a mínima reflexão, reflexão que é afinal o objeto dos engenhosos campos da Filosofia e da Teologia?” 

“Eu tinha a minha Teoria sobre estas bengalas linguísticas: todo o Homem tem uma palavra da qual abusa. Ou que emprega de modo inadequado. Estas palavras são a chave para a nossa mente. O Senhor «Ao que parece», o Senhor «Geralmente», a Senhora «Provavelmente», o Senhor «Foda-se», a Senhora «Não Acha?», o senhor «Como Se». O Presidente era o Senhor «Verdade». É claro que existem modas para usar determinadas palavras, tal como existem modas que, de repente, levam as pessoas, movidas por um desvario qualquer, a calçar botas idênticas ou a usar roupas iguais; o mesmo acontece com as pessoas que de repente começam a usar uma palavra em concreto. Nos últimos tempos, esteve em voga o «geralmente»; agora, domina o «basicamente».” 

In Conduz o Teu Arado sobre os Ossos dos Mortos (p. 117; p. 197)

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