António Ramos Rosa
1924-2013
Prémio
Pessoa em 1988, António Ramos Rosa deixou uma vasta obra literária e foi uma
das figuras marcantes da poesia portuguesa do século XX.
A Leitora
A leitora abre o espaço num
sopro subtil.
Lê na violência e no espanto da
brancura.
Principia apaixonada, de
surpresa em surpresa.
Ilumina e inunda e dissemina de
arco em arco.
Ela fala com as pedras do
livro, com as sílabas da sombra.
Ela adere à matéria porosa, à
madeira do vento.
Desce pelos bosques como uma
menina descalça.
Aproxima-se das praias onde o
corpo se eleva
em chama de água. Na imaculada
superfície
ou na espessura latejante,
despe-se das formas,
branca no ar. É um torvelinho
harmonioso,
um pássaro suspenso. A terra
ergue-se inteira
na sede obscura de palavras
verticais.
A água move-se até ao seu
princípio puro.
O poema é um arbusto que não
cessa de tremer.
António Ramos Rosa, in "Volante Verde"
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