quarta-feira, 13 de março de 2019

MARÇO| MÊS DA POESIA


MULHER

Metade mulher metade pássaro
Metade anémona metade névoa

Metade água metade mágoa
Metade silêncio metade búzio

Metade manhã metade fogo
Metade jade metade tarde

Metade mulher metade sonho

Jorge Sousa Braga, O Poeta Nu

  
CONTRIBUTO PARA AS ESTATÍSTICAS

Em cem pessoas,
sabedoras de tudo melhor -
cinquenta e duas;

inseguras a cada passo -
quase todo o resto;

prontas para ajudar,
desde que não demore muito -
quarenta e nove;

sempre boas,
porque não conseguem de outra forma -
quatro, talvez cinco;

dispostas a admirar sem inveja -
dezoito;

constantemente receosas
de algo ou alguém -
setenta e sete;

aptas para a felicidade -
vinte e tal, quando muito;

Individualmente inofensivas,
em grupo ameaçadoras -
mais de metade, com certeza;

cruéis,
por força das circunstâncias -
é melhor não sabê-lo,
nem aproximadamente;

com trancas na porta depois da casa roubada -
quase tantas como
aquelas que as têm, antes da casa roubada;

não levando nada da vida a não ser coisas -
quarenta,
embora preferisse estar enganada;

agachadas, doloridas,
e sem lanterna no escuro -
oitenta e três,
mais tarde ou mais cedo;

dignas de compaixão -
noventa e nove;

mortais -
cem em cem.
Número, até agora, não sujeito a alterações.

Wislawa Szymborska, Instante
Poetisa e mulher das letras polaca, venceu o Prémio Nobel da Literatura em 1996.

A UMA BORBOLETA

Não, espera, fica – aonde vais!
Deixa-me ver-te um pouco mais,
Conversemos, que bem me fazes,
A minha infância toda trazes!
Não vás; porquê tão apressada?
O que passou refazes:
Ó bela criatura alada,
A forma da família amada
A do meu pai, me trazes!
 
Quão gratos, gratos esses dias,
O tempo de mil tropelias
Quando eu e a minha mana ríamos
E atrás de borboletas íamos!
Aos saltos, caçador sem susto,
Seguia o ser de muitas casas,
De feto aqui, ali arbusto;
Já ela, Deus a tenha, a custo
Lhes espanava as asas.

William Wordsworth, Poemas Escolhidos

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