quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019


DIA DOS NAMORADOS
14/fevereiro




Não há nada de mais natural neste dia do que o tema do amor.

Apresentamos a nossa sugestão de leitura para celebrar esta data:

366 Poemas que Falam de Amor

de Vasco Graça Moura


Vasco Graça Moura reúne neste livro 366 poemas que falam de amor - que sofrem e exultam, desencorajam e comovem, entristecem e rejubilam, que falam da alegria e da surpresa do amor. E também da sua melancolia, dos seus nomes raros, da evidência, da sua inevitabilidade. Com esta escolha percorre-se também uma vasta tradição da poesia de todos os tempos, uma arte que nunca poderemos esquecer - e o deslumbramento diante do amor.
(livro disponível na nossa biblioteca)

Gustav Klimt, O Beijo

O Beijo
Congresso de gaivotas neste céu
Como uma tampa azul cobrindo o Tejo.
Querela de aves, pios, escarcéu.
Ainda palpitante voa um beijo.

Donde teria vindo! (Não é meu...)
De algum quarto perdido no desejo?
De algum jovem amor que recebeu
Mandado de captura ou de despejo?

É uma ave estranha: colorida,
Vai batendo como a própria vida,
Um coração vermelho pelo ar.

E é a força sem fim de duas bocas,
De duas bocas que se juntam, loucas!
De inveja as gaivotas a gritar...

Alexandre O'Neill 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Programação mensal


Escritor do mês | fevereiro

JORGE DE SENA
(1919/1978)


Jorge de Sena nasceu em Lisboa a 2 de novembro de 1919 e morreu em Santa Bárbara, na Califórnia, a 4 de junho de 1978. Licenciado em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia do Porto, parte para o exílio no Brasil em 1959 e, aí, doutora-se em Letras e torna-se regente das cadeiras de Teoria da Literatura e de Literatura Portuguesa. Muda-se para os Estados Unidos da América em 1965, lecionando na Universidade de Wisconsin e, anos depois, na Universidade da Califórnia. Poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário, é considerado um dos mais relevantes escritores de língua portuguesa e uma das figuras centrais da cultura do século XX.

A obra de Jorge de Sena, vasta e multifacetada, compreende mais de vinte coletâneas de poesia, uma tragédia em verso, uma dezena de peças em um ato, mais de trinta contos, uma novela e um romance, e cerca de quarenta volumes dedicados à crítica e ao ensaio (com destaque para os estudos sobre Camões e Pessoa, poetas com os quais a sua poesia estabelece um importante diálogo), à história e à teoria literária e cultural (os seus trabalhos sobre o Maneirismo foram pioneiros, tal como a sua história da literatura inglesa, e a sua visão comparatista e interdisciplinar das literaturas e das culturas foi extremamente fecunda), ao teatro, ao cinema e às artes plásticas, de Portugal, do Brasil, da Espanha, da Itália, da França, da Alemanha, da Inglaterra ou dos Estados Unidos, sem esquecer as traduções de poesia (duas antologias gerais, da Antiguidade Clássica aos Modernismos do século XX, num total de 225 poetas e 985 poemas, e antologias de Kavafis e Emily Dickinson, dois poetas que deu a conhecer em Portugal), as traduções de ficção (Faulkner, Hemingway, Graham Greene, entre 18 autores), de teatro (com destaque para Eugene O’Neill) e ensaio (Chestov).

A criação poética de Jorge de Sena foi desde cedo acompanhada por uma intensa atividade intelectual e cultural, como conferencista, como crítico de teatro e de literatura, em diversos jornais e revistas, como comentador de cinema, nas “Terças-feiras Clássicas” do Jardim Universitário de Belas-Artes, no cinema Tivoli, como diretor de publicações, com destaque para os Cadernos de Poesia, como coordenador editorial, na revista Mundo Literário, como consultor literário, na Edição “Livros do Brasil” Lisboa ou na Editora Agir (Rio de Janeiro), tendo sido ainda cofundador de um grupo de teatro, “Os Companheiros do Páteo das Comédias”, em 1948, e colaborador, nesse mesmo ano, de António Pedro, no programa de teatro radiofónico Romance Policial (Rádio Clube Português, Lisboa), adaptando contos de Chesterton, Hammett, Maupassant, Poe e outros.

A intervenção do intelectual nos domínios da cultura ganha novos horizontes com a atividade de docente e investigador universitário no Brasil, onde reforça também a sua ação cívica como opositor ao Estado Novo. É cofundador da Unidade Democrática Portuguesa, de cuja direção se demite em 1961, e integra o conselho de redação do jornal Portugal Democrático, até 1962, participando ainda em atividades do Centro Republicano Português, de São Paulo. Uma vez nos Estados Unidos, a atividade cultural de Jorge de Sena fica restringida aos círculos académicos e da emigração (no período californiano, desempenha um importante papel no esclarecimento das comunidades portuguesas sobre o 25 de Abril de 1974), apenas compensada por uma enorme e rica correspondência com outros escritores e intelectuais portugueses e brasileiros, e pelas suas viagens de trabalho à Europa e, em 1972, a Moçambique e Angola, falando de Camões, no IV Centenário de Os Lusíadas.

É com toda esta vasta experiência, longamente marcada pelo exílio, que Jorge de Sena vai construindo a sua obra. Daí que ele sempre tenha entendido a sua poesia (o seu teatro, a sua ficção) como uma forma de dar testemunho de si mesmo e das suas circunstâncias, sem com isso menosprezar, antes pelo contrário, o trabalho de organização estética das emoções e dos sentimentos, ancorados na observação, na meditação e na rememoração de uma experiência de mundo concreta, no plano individual e coletivo. E dessa experiência fazem parte as visões de mundo que as obras de arte (literária, visual, musical) vão cristalizando, codificando, no decurso da história humana, entendida esta como uma peregrinação secular. O que, por sua vez, faz dessas obras de arte (dessas metamorfoses) objeto de uma experiência poeticamente meditada. Assim, a poesia (a obra) de Jorge de Sena, em que a ética e a estética se confundem, e em que o lirismo se mescla com um forte pendor especulativo e narrativo, deve ser lida, nas suas palavras, como uma “meditação sobre o destino humano e sobre o próprio facto de criar linguagem”.

O romance Sinais de fogo é parte de um ciclo romanesco que pretendia “cobrir, através das experiências de um narrador, a vida portuguesa desde 1936 a 1959”. Nesta narrativa, centrada no verão de 1936, a eclosão da Guerra Civil de Espanha é o acontecimento que, como observou Mécia de Sena, catalisa “o despertar do protagonista para a realidade política e social, para o amor e até para o acto da criação poética”. Este romance de formação (ou Bildungsroman), seja qual for a relação entre o Jorge protagonista e o Jorge autor, é a obra-prima de um poeta que nos dá a ver o tempo e o modo de fazer-se um poeta.

Bibliografia 

Poesia

Perseguição (1942); Coroa da Terra (1946); Pedra Filosofal (1950); As Evidências (1955); Fidelidade (1958); Poesia-I (Perseguição, Coroa da Terra, Pedra Filosofal, As Evidências, e o inédito Post-Scriptum) (1961; 3.ª ed., 1988); Metamorfoses, seguidas de Quatro Sonetos a Afrodite Anadiómena (1963); Arte de Música (1968); Peregrinatio ad Loca Infecta (1969); 90 e Mais Quatro Poemas de Constantino Cavafy (1970; 3.ª ed., 2003); Poesia de 26 Séculos: De Arquíloco a Nietzsche (1971-72; 3.ª ed., 2001); Exorcismos (1972); Trinta Anos de Poesia (antologia, 1972; 2.ª ed., 1984); Camões Dirige-se aos Seus Contemporâneos e Outros Textos (1973); Conheço o Sal... e Outros Poemas (1974); Sobre Esta Praia... Oito Meditações à beira do Pacífico (1977); Poesia-II (Fidelidade, Metamorfoses, Arte de Música) (1978; 2.ª ed., 1988); Poesia-III (Peregrinatio ad Loca Infecta, Exorcismos, Camões Dirige-se aos Seus Contemporâneos, Conheço o Sal... e Outros Poemas, Sobre Esta Praia...) (1978; 2.ª ed., 1989); Poesia do Século XX: De Thomas Hardy a C. V. Cattaneo (1978; 3.ª ed., 2003); 40 Anos de Servidão (1979; 3.ª ed., 1989); 80 Poemas de Emily Dickinson (1979); Sequências (1980); Visão Perpétua (1982; 2.ª ed., 1989); Post-Scriptum-II (1985); Dedicácias (1999).


Teatro

O Indesejado (António, Rei) (1951; 3.ª ed., 1986); Amparo de Mãe e Mais 5 Peças em 1 Acto (1974); Mater Imperialis: Amparo de Mãe e Mais 5 Peças em 1 Acto seguido de um Apêndice (1990).


Ficção

Andanças do Demónio (1960); A Noite que Fora de Natal (1961); Novas Andanças do Demónio (1966); Os Grão-Capitães: Uma Sequência de Contos (1976; 5.ª ed., 1989); O Físico Prodigioso (1977; 8.ª ed., 2001); Antigas e Novas Andanças do Demónio (1978; 6.ª ed., 2000); Sinais de Fogo (1979; 9.ª ed., 2003); Génesis (1983; 2.ª ed., 1986); Monte Cativo e Outros Projectos de Ficção (1994).


Obras Críticas, de História Geral, Cultural ou Literária

Páginas de Doutrina Estética, de Fernando Pessoa (1946; 2.ª ed., [1964]); Florbela Espanca ou a Expressão do Feminino na Poesia Portuguesa (1947; ed. fac-similada, 1995); Líricas Portuguesas: 3ª Série (1958; 2.ª ed., rev. e aum., em 2 vols.: I, 1975; II, 1983; 3.ª ed. do vol. I, 1984); Da Poesia Portuguesa (1959); História da Literatura Inglesa, de A. C. Ward (1960); «O Poeta é um Fingidor» (1961); O Reino da Estupidez-I (1961; 3.ª ed., 1984); A Literatura Inglesa: Ensaio de Interpretação e de História (1963; 2.ª ed., 1989); Teixeira de Pascoaes: Poesia (1965; 3.ª ed., aum., como A Poesia de Teixeira de Pascoaes, 1982); Uma Canção de Camões (1966; 2.ª ed., 1984); Estudos de História e de Cultura (1967); Os Sonetos de Camões e o Soneto Quinhentista Peninsular (1969; 2.ª ed., 1981); A Estrutura de Os Lusíadas e Outros Estudos Camonianos e de Poesia Peninsular do Século XVI (1970; 2.ª ed., 1980); Dialécticas da Literatura (1973; 2.ª ed., rev. e aum.: Dialécticas Teóricas da Literatura, 1978); Maquiavel e Outros Estudos (1974; 2.ª ed.: Maquiavel, Marx e Outros Estudos, 1991); Francisco de la Torre e D. João de Almeida (1974); Poemas Ingleses, de Fernando Pessoa (1974; 4.ª ed., 1994); Régio, Casais, a presença e Outros Afins (1977); Dialécticas Aplicadas da Literatura (1978); O Reino da Estupidez-II (1978); Trinta Anos de Camões, 1948-1978 (Estudos Camonianos e Correlatos) (1980); Estudos de Literatura Portuguesa-I (1982; 2.ª ed., aum., 1999); Fernando Pessoa & Cª Heterónima (Estudos Coligidos 1940-1978) (1982; 2.ª ed., 1984); Estudos sobre o Vocabulário de Os Lusíadas: Com Notas sobre o Humanismo e o Exoterismo de Camões (1982); Inglaterra Revisitada (Duas Palestras e Seis Cartas de Londres) (1986); Sobre o Romance (Ingleses, Norte-Americanos e Outros) (1986); Estudos de Literatura Portuguesa-II (1988); Estudos de Literatura Portuguesa-III (1988); Estudos de Cultura e Literatura Brasileira (1988); Sobre Cinema (1988); Do Teatro em Portugal (1989); Amor e Outros Verbetes (1992); O Dogma da Trindade Poética (Rimbaud) e Outros Ensaios (1994); Diários (2004); Sobre Literatura e Cultura Britânicas (2005); Poesia e Cultura (2005). NO PRELO: Sobre Teoria e Crítica Literária; Textos de Intervenção Política; Entrevistas e Inquéritos.

Correspondência

Jorge de Sena / Guilherme de Castilho (1981); Mécia de Sena / Jorge de Sena: Isto Tudo Que Nos Rodeia (Cartas de Amor) (1982); Jorge de Sena / José Régio (1986); Jorge de Sena / Vergílio Ferreira (1987) Cartas a Taborda de Vasconcelos: Correspondência Arquivada (1987); Eduardo Lourenço / Jorge de Sena (1991); Jorge de Sena / Edith Sitwell (1994); Dante Moreira Leite / Jorge de Sena: Registros de uma convivência intelectual (1996).

Antologias (seleção)

Poesia de Jorge de Sena, de Fátima Freitas Morna (1985); Antologia Poética de Jorge de Sena, de Jorge Fazenda Lourenço (1999); A Arte de Jorge de Sena: Uma Antologia, de Jorge Fazenda Lourenço (2004).

Fonte: Fazenda Lourenço, J. (2019). Jorge de Sena. [online] Camões, I.P. Disponível em: http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/jorge-de-sena-55876-dp1.html#.XF1L3Fz7TIU [Consultado em 8 fev. 2019].

 “Uma Pequenina Luz”















Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla… em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indeflectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha

Jorge de Sena

O Leituras sugere...





...para fevereiro


Porque é Que os Animais não Conduzem?
 Pedro Seromenho


Queres saber porque é que o dinossauro, a toupeira, o papagaio e muitas outras criaturas não podem conduzir?!
Então entra neste livro e deixa-te guiar por um mundo divertido de animais que parecem pessoas reais. Sem regras nem sinais as estradas são uma selva e os perigos muitos mais. Boa viagem... em segurança!

Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para o 2º ano de escolaridade, destinado a leitura autónoma.

Um poema...


ROSTOS DA MINHA INFÂNCIA

Rostos da minha infância, 
crianças sem asas, sujas 
de fome, com ferrugem 
nos antebraços e fuligem 
nas mãos. Gentis como cães 
vadios, epifanias breves 
em redondilha menor, 
açúcar no fim da cevada. 
Hoje anoitece com desmesura. 
E, no entanto, a luz.

José Rui Teixeira, Autópsia [poesia reunida]