quarta-feira, 18 de março de 2015

21 de março | Dia Mundial da Poesia

21 de março | Dia Mundial da Árvore



POEMA DAS ÁRVORES

As árvores crescem sós. E a sós florescem.

Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.

Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.

Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.

E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.

Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.

As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.

Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
A crescer e a florir sem consciência.

Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores.

António Gedeão




A UM NEGRILHO

Na terra onde nasci há um só poeta
     Os meus versos são folhas dos seus ramos.
     Quando chego de longe e conversamos,
     É ele que me revela o mundo visitado.
     Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
     E a luz do sol aceso ou apagado
     É nos seus olhos que se vê pousada.
     Esse poeta és tu, mestre da inquietação Serena! 
   
Tu, imortal avena
     Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
     Redil de estrelas ao luar maninho.
     Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
     Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!

Miguel Torga


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