quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Escritor do mês | outubro

MANUEL ALEGRE
(1936/)


Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de maio de 1936 em Águeda. 

Estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um ativo dirigente estudantil. Apoiou a candidatura do General Humberto Delgado. Foi fundador do CITAC – Centro de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, membro do TEUC – Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra, campeão nacional de natação e atleta internacional da Associação Académica de Coimbra. Dirigiu o jornal A Briosa, foi redator da revista Vértice e colaborador de Via Latina.

Quando cumpria o serviço militar em Angola, participou na primeira tentativa de rebelião contra a guerra colonial, sendo então preso pela PIDE. Seguiu-se o exílio em Argel, onde foi membro diretivo da F.P.L.N. e locutor da rádio Voz da Liberdade. A sua atividade política andou sempre a par da atividade literária e alguns dos seus poemas ("Trova do Vento que Passa", "Nambuangongo Meu Amor", "Canção com Lágrimas e Sol"...) transformaram-se em hinos geracionais e de combate ao fascismo, copiados e distribuídos de mão em mão, cantados por Adriano Correia de Oliveira ou Manuel Freire. Os seus dois primeiros livros, "Praça da Canção" (1965) e "O Canto e as Armas" (1967) venderam mais de cem mil exemplares.

Regressado do exílio em 1974, "o poeta da liberdade" desempenhou um papel de relevo no Partido Socialista. Foi membro do Governo, deputado da Assembleia da República e ocupou um lugar no Conselho de Estado. Em maio de 2010 apresentou formalmente a sua candidatura à Presidência da República.

 Os livros mais recentes (note-se ainda a incursão pela prosa: "Jornada de África", 1989, "Alma", 1995, e " "A Terceira Rosa", 1998) levam-no ao diálogo com poetas de outros tempos, como Dante ou Camões, ou a refletir sobre a condição humana, a morte e o sentido da existência, de que são exemplo os "Poemas do Pescador", incluídos no livro "Senhora das Tempestades": «Senhora dos cabelos de alga onde se escondem as divindades / (...) Senhora do Sol do sul com que me cegas / / (...) Senhora da vida que passa e do sentido trágico // (...) Senhora do poema e da oculta fórmula da escrita / alquimia de sons Senhora do vento norte / que trazes a palavra nunca dita / Senhora da minha vida Senhora da minha morte.» 

Manuel Alegre tem sido distinguido por inúmeras condecorações e medalhas. A sua obra está editada em diversas línguas, nomeadamente italiano, espanhol, alemão, catalão, francês, romeno e russo e goza de reconhecimento nacional e internacional, tendo recebido múltiplos e importantes prémios literários:

1998 - Prémio de Literatura Infantil António Botto, pelo livro As Naus de Verde Pinho 
1998 - Prémio da Crítica Literária atribuído pela Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos Literários, pelo livro Senhora das Tempestades 
1998 - Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, patrocinado pelos CTT, pelo livro Senhora das Tempestades 
1999 - Prémio Pessoa, patrocinado pelo jornal Expresso e importante referência no panorama cultural português, pelo conjunto da Obra Poética, editada em 1999
1999 - Prémio Fernando Namora, patrocinado pela Sociedade Estoril-Sol, pelo livro A Terceira Rosa 
2008 – Prémio D. Dinis, patrocinado pela Fundação da Casa Mateus, pelo livro Doze Naus 
2010 - Tributo Consagração atribuído pela Fundação Inês de Castro (FIC), instituição de Coimbra, pela totalidade da sua obra.
2016 - Prémio Vida Literária 2015/2015 da Associação Portuguesa de Escritores 
2016 - Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores
2016 - Grande Prémio de Literatura dst pelo livro de poemas "Bairro Ocidental"
2017 - Prémio Guerra Junqueiro instituído pelo FFIL - Freixo Festival Internacional de Literatura 
2017 - Prémio Camões (instituído pelos governos do Brasil e de Portugal, o maior prémio literário da língua portuguesa).

A obra literária de Manuel Alegre tem sido, também, objeto de estudos e teses de doutoramento e mestrado.

Sobre a sua obra poética, reeditada sucessivas vezes, Eduardo Lourenço afirmou que "sugere espontaneamente aos ouvidos (...) a forma, entre todas arquétipa, da viagem, do viajante ou, talvez melhor, peregrinante". O livro Senhora das Tempestades  inclui o poema com o mesmo nome, que Vítor Manuel Aguiar e Silva considerou "uma das mais belas odes escritas na língua portuguesa". Segundo Paola Mildonian, Manuel Alegre "canta a dor e o amor da história com acentos universais, com uma linguagem que (...) recupera em cada sílaba os quase três milénios da poesia ocidental". No Livro do Português Errante, Manuel Alegre, segundo Paula Morão, emociona e desassossega: "depõe nas nossas mãos frágeis as palavras, rosto do mundo, faz de nós portugueses errantes e deixa-nos o dom maior (...) – os seus poemas".

Poesia

·        1965 - Praça da Canção
·        1967 - O Canto e as Armas
·        1971 - Um Barco para Ítaca
·        1976 - Coisa Amar (Coisas do Mar)
·        1979 - Nova do Achamento
·        1981 - Atlântico
·        1983 - Babilónia
·        1984 - Chegar Aqui
·        1984 - Aicha Conticha
·        1991 - A Rosa e o Compasso
·        1992 - Com que Pena — Vinte Poemas para Camões
·        1993 - Sonetos do Obscuro Quê
·        1995 - Coimbra Nunca Vista
·        1996 - As Naus de Verde Pinho
·        1996 - Alentejo e Ninguém
·        1997 - Che
·        1998 - Pico
·        1998 - Senhora das Tempestades
·        1999 - E alegre se fez triste
·        2001 - Livro do Português Errante
·        2008 - Nambuangongo, Meu Amor
·        2008 - Sete Partidas
·        2015 Bairro Ocidental
·        2017 - Auto de António

Ficção

·        1989 - Jornada de África
·        1989 - O Homem do País Azul
·        1995 – Alma (romance de  dimensão autobiográfica no qual narra a sua infância e adolescência)
·        1998 - A Terceira Rosa
·        1999 - Uma Carga de Cavalaria
·        2002 - Cão Como Nós
·        2003 – Rafael

Literatura Infantil

·        2007 - Barbi-Ruivo, O meu primeiro Camões, ilustrações de André Letria, Publicações Dom Quixote, 1ª edição, novembro de 2007
·        2009 - O Príncipe do Rio, ilustrações de Danuta Wojciechowska, Publicações Dom Quixote, abril de 2009
·        2015 - As Naus de Verde Pinho: Viagem de Bartolomeu Dias contada à minha filha Joana. Prémio de Literatura Infantil António Botto

Outros.

·        1997 - Contra a Corrente (discursos e textos políticos)
·        2002 - Arte de Marear (ensaios)
·        2006 - O Futebol e a Vida, Do Euro 2004 ao Mundial 2006. (crónicas)
·        2016 - Uma outra memória - A escrita, Portugal e os camaradas dos sonhos


Fala de Alcântara e depois

Era um resto de cavalaria
quantos ao certo não sei
o que sobrou de Alcácer-Quibir
um resto
por seu reino e por seu rei.
Dois flancos dois frágeis terríveis flancos.
À primeira investida
levaram de vencida os invasores
era um resto de cavalaria
e povo mal armado.
Então o Duque de Alba carregou
trazia o exército mais forte da Europa
contra o que de nós ainda restava
cavaleiros sem cavalo
lavradores taberneiros sapateiros
fanqueiros mendigos chulos
putas
facas ancinhos foices pedras mãos
palavras palavrões
a língua portuguesa
o corpo e a alma
Alcântara e depois
Lisboa bairro a bairro rua a rua
por seu reino e por seu rei
quantos ao certo não sei
defendiam uma bandeira rota
além da morte além do fim.
Quando é assim
não há derrota.
Manuel Alegre, em "Auto de António"


“Este livro não é uma biografia, é uma revisitação poética da figura de Dom António, Prior do Crato. Foi escrito através de várias falas, inclusive a daqueles que nunca falaram e a do próprio autor. Ao longo do livro a figura de Dom António projecta-se em vários tempos e várias gerações e no nosso próprio tempo, sobretudo naqueles que resistiram e que tal como ele nunca se renderam”, diz Manuel Alegre a propósito do seu mais recente livro de poemas, Auto de António, que chegou às livrarias a 10 de outubro.

Fonte: www.manuelalegre.com/ (adaptado)

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