Primavera
As heras de outras eras água pedra
E passa devagar memória antiga
Com brisa madressilva e primavera
E o desejo da jovem noite nua
Música passando pelas veias
E a sombra das folhagens nas paredes
Descalço o passo sobre os musgos verdes
E a noite transparente e distraída
Com seu sabor de rosa densa e breve
Onde me lembro amor de ter morrido
- Sangue feroz do tempo possuído.
E passa devagar memória antiga
Com brisa madressilva e primavera
E o desejo da jovem noite nua
Música passando pelas veias
E a sombra das folhagens nas paredes
Descalço o passo sobre os musgos verdes
E a noite transparente e distraída
Com seu sabor de rosa densa e breve
Onde me lembro amor de ter morrido
- Sangue feroz do tempo possuído.
Andresen, Sophia de Mello Breyner. 1996. Obra
poética. Lisboa: Caminho
OLHOS
POSTOS NA TERRA, TU VIRÁS
Olhos
postos na terra, tu virás
no
ritmo da própria primavera,
e
como as flores e os animais
abrirás
nas mãos de quem te espera.
EUGÉNIO
DE ANDRADE, As Mãos e os Frutos, 1948
ANUNCIAÇÃO
Surdo
murmúrio do rio,
a
deslizar, pausado, na planura.
Mensageiro
moroso
dum
recado comprido,
di-lo
sem pressa ao alarmado ouvido
dos
salgueirais:
a
neve derreteu
nos
píncaros da serra;
o
gado berra
dentro
dos currais,
a
lembrar aos zagais
o
fim do cativeiro;
anda
no ar um perfumado cheiro
a
terra revolvida;
o
vento emudeceu;
o
sol desceu;
a primavera
vai chegar, florida.
Miguel
Torga, Poesia Completa de Miguel Torga - Volume I
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