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CENTENÁRIO DE EUGÉNIO DE ANDRADE CELEBRADO COM EXPOSIÇÕES, CONCERTOS E CONGRESSOS
(1923/2005)
As cidades do Fundão e do Porto, onde o poeta nasceu e morreu, são responsáveis pela organização das iniciativas de evocação, que incluem um colóquio internacional, exposições e concertos.
Um colóquio internacional, congressos, exposições, concertos e leituras são algumas das iniciativas que arrancam esta quinta-feira e vão decorrer ao longo do ano para celebrar o centenário do escritor e poeta Eugénio de Andrade.
Nascido em 19 de janeiro de 1923, no Fundão, Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, morreu no Porto em 2005, aos 82 anos. São, por isso, essas as duas principais cidades a organizar iniciativas de evocação desta data especial, como é o caso da exposição “Eugénio de Andrade, A Arte dos Versos”, a inaugurar hoje na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, que tem como ponto de partida o espólio do escritor, doado pela Fundação Eugénio de Andrade à autarquia do Porto, e permite uma aproximação à vida e obra do poeta.
Na mesma cidade, a Cooperativa Árvore apresenta uma exposição intitulada “Poesia a 100 Eugénio”, que vai estar patente até dia 28 de janeiro, que integra obras de pintura e escultura de artistas convidados sobre o tema do imaginário poético de Eugénio de Andrade, uma coleção de fotografias do poeta com artistas com quem privou na época, assim como catálogos editados pela Cooperativa Árvore e outras publicações. Ainda no Porto, terá lugar hoje à noite na Casa da Música um concerto dedicado ao poeta, e estão previstos ao longo do ano ciclos de leitura, percursos e um programa educativo.
A programação completa do programa das comemorações pode ser consultada aqui.
Fonte: Observador.pt
Foi para ti que criei as rosas
Foi para ti que criei as rosas.
Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
e dei ás romãs a cor do lume.
Sê paciente; espera
Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.
As amoras
O meu país sabe às amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
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