segunda-feira, 12 de abril de 2021

Um poema...

 Explicação do País de Abril


País de Abril é o sítio do poema.

Não fica nos terraços da saudade

não fica nas longas terras. Fica exactamente aqui

tão perto que parece longe.

 

Tem pinheiros e mar tem rios

tem muita gente e muita solidão

dias de festa que são dias tristes às avessas

é rua e sonho é dolorosa intimidade.

 

Não procurem nos livros que não vem nos livros

País de Abril fica no ventre das manhãs

fica na mágoa de o sabermos tão presente

que nos torna doentes sua ausência.

 

País de Abril é muito mais que pura geografia

é muito mais que estradas pontes monumentos

viaja-se por dentro e tem caminhos veias

- os carris infinitos dos comboios da vida.

 

País de Abril é uma saudade de vindima

é terra e sonho e melodia de ser terra e sonho

território de fruta no pomar das veias

onde operários erguem as cidades do poema.

 

Não procurem na História que não ven na História.

País de Abril fica no sol interior das uvas

fica à distância de um só gesto os ventos dizem

que basta apenas estender a mão.

 

País de Abril tem gente que não sabe ler

os avisos secretos do poema.

Por isso é que o poema aprende a voz dos ventos

para falar aos homens do País de Abril.

 

Mais aprende que o mundo é do tamanho

que os homens queiram que o mundo tenha:

o tamanho que os ventos dão aos homens

quando sopram à noite no País de Abril.


Manuel Alegre

Praça da Canção



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