quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Sophia de Mello Breyner Andresen - 100 anos

(Porto, 6 de novembro de 1919 — Lisboa, 2 de julho de 2004)


Faz hoje 100 anos que nasceu Sophia de Mello Breyner Andresen, uma das mais importantes poetas do século XX português. 

Sophia de Mello Breyner Andresen foi condecorada três vezes pela República Portuguesa e distinguida com 13 prémios literários, entre outros galardões. A poeta morreu dez dias antes de receber a Medalha de Honra do Presidente do Chile, por ocasião do centenário do nascimento de Pablo Neruda. O Prémio Rainha Sofia de Espanha, em 2003, foi o último galardão que recebeu em vida, de uma lista iniciada em 1964, quando recebeu o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores, pelo livro "Canto Sexto". Em 1977, "O Nome das Coisas" vale-lhe o Prémio Teixeira de Pascoaes e, em 1984, a Associação Internacional de Críticos Literários entregou-lhe o Prémio da Crítica pela totalidade da obra. Em 1989, foi distinguida com o Prémio D. Dinis pelo livro de poesia "Ilhas", Grande Prémio de Poesia Inasset/Inapa, no ano seguinte. Em 1992, voltou a ser premiada pela totalidade da obra, desta feita, com o Grande Prémio Calouste Gulbenkian para Crianças. Em 1994, a Associação Portuguesa de Escritores outorgou-lhe o Prémio 50 anos de Vida Literária e, em 1996, foi homenageada no Carrefour des Litératures (França), um ano depois de ter sido distinguida com o Prémio Petrarca pela Associação de Editores Italianos. Em 1998, pelo seu livro "O búzio de cós" recebeu o Prémio Luís Miguel Nava. 
Em 1999, foi distinguida com o Prémio Camões.


A minha vida é o mar o abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto

Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento

E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada

Sophia de Mello Breyner Andresen


Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem.

Sophia de Mello Breyner Andresen

EM TODOS OS JARDINS

Em todos os jardins hei-de florir,
Em todos beberei a lua cheia,
Quando enfim no meu fim eu possuir
Todas as praias onde o mar ondeia.

Um dia serei eu o mar e a areia,
A tudo quanto existe me hei-de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia se há-de abrir.

Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta
Conhecido por mim como num beijo.

Então serei o ritmo das paisagens,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Liberdade

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

Sophia de Mello Breyner Andresen

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