quarta-feira, 14 de junho de 2017

Escritor do mês | junho

AFONSO CRUZ

(1971- )


Afonso Cruz é escritor, ilustrador, cineasta e músico da banda The Soaked Lamb. Nasceu em 1971, na Figueira da Foz, e frequentou, mais tarde, a Escola António Arroio, em Lisboa, e a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, assim como o Instituto Superior de Artes Plásticas da Madeira.

Publicou o primeiro romance em 2008, A carne de Deus: Aventuras de Conrado Fortes e Lola Benites, ao qual se seguiu, em 2009, Enciclopédia da estória universal, que foi distinguido com o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco. Em 2012, venceu o Prémio da União Europeia de Literatura com o livro A Boneca de Kokoschka. Outros galardões que já recebeu foram o Prémio Autores da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), em 2011 e 2014, e o Prémio Nacional de Ilustração, em 2014.

É também autor de Os livros que devoraram o meu pai, distinguido com o Prémio Literário Maria Rosa Colaço, e A contradição humana, com o qual venceu o Prémio Autores SPA/RTP. Em 2012, editou o romance Jesus Cristo bebia cerveja, que foi distinguido com Prémio Time Out - Livro do Ano e eleito Melhor Livro, segundo escolha dos leitores do diário Público. Em 2013, publicou Para onde vão os guarda-chuvas, com o qual recebeu o Prémio Autores/SPA na categoria Melhor Livro de Ficção (2014). Em 2016, o romance Flores venceu por unanimidade o Prémio Literário Fernando Namora.

Assina, desde fevereiro de 2013, uma crónica mensal no Jornal de Letras, Artes e Ideias sob o título Paralaxe.

 Obra
·        A Carne de Deus (2008)
·        Enci­clo­pé­dia da Estó­ria Uni­ver­sal (2009)
·        Os Livros que Devo­ra­ram o Meu Pai (2010)
·        A Boneca de Kokoschka (2010)
·        A Contradição Humana (2010)
·        O Pintor Debaixo do Lava-Loiças (2011)
·        Enci­clo­pé­dia da Estó­ria Uni­ver­sal - Recolha de Alexandria (2012)
·        Jesus Cristo Bebia Cerveja (22)
·        O Livro do Ano (2013)
·        Enciclopédia da Estória Universal - Arquivos de Dresner (2013)
·        O Cultivo de Flores de Plástico (2013)
·        Assim, Mas Sem Ser Assim (2013)
·        Para Onde Vão os Guarda-Chuvas (2013)
·        Os Pássaros (dos Poemas Voam Mais Alto) (2014)
·        Enciclopédia da Estória Universal - Mar (2014)
·        À Velocidade do Pensamento (2014)
·        Capital (2014)
·        Barafunda (em conjunto com Marta Bernardes) (2015)
·        Flores (2015)
·        Cruzada das Crianças - Vamos Mudar o Mundo (2015)
·        Enciclopédia da Estória Universal - As Reencarnações de Pitágoras (2015)
·        Vaga (2015)
·        Nem Todas As Baleias Voam (2016)
·        Enci­clo­pé­dia da Estó­ria Uni­ver­sal - Mil Anos de Esquecimento (2016)



Achei muito estranho que acedessem à minha petição — à petição que irei relatar de seguida —, sem qualquer inquérito por escrito. Não tenho números suficientes para descrever como me senti feliz com a decisão. Nesse dia, à noite, ao jantar, levantei-me e declarei:
            Gostava de ter um poeta. Podemos comprar um?
 A mãe não disse nada, limitou-se a levantar a louça, quatro pratos de sopa, quatro colheres de sopa e informar os comensais, eu e o pai e o meu irmão, de que a carne seria servida de seguida, dentro de trinta segundos. O pai acabou de mastigar um bocado de pão, cerca de 15 treze gramas, moveu os maxilares cinco vezes e inquiriu:
 Porque não um artista?
 A mãe disse:
 Nem pensar, fazem muita porcaria, a senhora 5638,2 tem um e despende três a quatro horas por dia a limpar a sujidade que ele faz com as tintas naqueles objetos brancos.
Telas.
 Isso.
 Muito bem, disse o pai, compramos um poeta. De que tamanho?
Afonso Cruz, Vamos Comprar Um Poeta, p. 15



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