sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

NATAL...a contar!


Até ao Natal, vamos publicar, três contos alusivos a esta festividade.
BOAS FESTAS! 

O desejo de Lucy


Todos os dias, Lucy costumava observar as folhas a caírem das árvores do jardim e, todos os dias, perguntava à mãe, à irmã ou ao pai que dia era, na esperança de que fosse
Dia de Natal. Um dia, fez a mesma pergunta no supermercado, enquanto a mãe empurrava o carrinho de compras.
— Hoje é o dia 23 de Outubro — disse a mãe — mas já vamos fazer o bolo de Natal.
Lucy sorriu. Adorava os preparativos do Natal.
Uma vez em casa, ajudou a mãe a preparar tudo aquilo de que necessitava para fazer o bolo. Além da farinha, dos ovos, do açúcar e da margarina, havia uma série de pacotes que tinham trazido do supermercado, cheios de uvas passas, sultanas, cerejas, amêndoas descascadas e com casca. Lucy colocou alguns frutos na taça e mexeu tudo muito bem, até formar uma massa de cor bege, cheia de grumos. Enquanto mexia, tinha de formular um desejo.
— O que pediste? — perguntou-lhe a mãe.
— É segredo — respondeu Lucy. — Se contarmos, o desejo não se realiza.
Depois de fazerem o bolo, passaram-se vários dias durante os quais nada se disse sobre o Natal. Lá fora, no jardim, as árvores estavam já despidas de folhas.
— Que dia é hoje? — perguntou Lucy.
— 30 de Novembro — respondeu a irmã, Frances, que tinha oito anos. — Penso que 
devíamos começar os preparativos para o Natal.
— Está bem — concordou Lucy.
Sentaram-se, então, na cozinha, com um frasco de cola e folhas de papel colorido, e fizeram serpentinas de papel para decorar as paredes. Ficaram sentadas durante toda a tarde, na mesa grande junto à janela. As casas lá fora foram escurecendo, até se parecerem com recortes de papel preto num céu que se tornava ora rosáceo, ora violeta, ora azul, à medida que o sol se punha.
— Olha! — exclamou Frances. — Apareceu a primeira estrela. Pede um desejo, depressa!
Lucy fechou os olhos e formulou um desejo.
— O que pediste? — perguntou Frances.
— É segredo — respondeu Lucy. — Se contarmos, o desejo não se realiza.
Depois de terem feito as decorações, tornou-se mais fácil contar os dias que faltavam
até ao Natal. Lucy e Frances tinham, cada uma, um calendário do Advento, e todos os dias
abriam uma portinha e olhavam para o desenho que estava no interior. No dia 19 de
Dezembro, o pai de Lucy disse:
— Já são horas de irmos buscar a árvore de Natal à garagem e as coisas que estão no
sótão para a decorarmos.
Lucy, Frances e o pai foram ao sótão buscar as caixas cheias do que Lucy chamava ”As
Três Jóias”. Trouxeram-nas para baixo e penduraram nos ramos bolas esguias e brilhantes,
em tons de prata, púrpura e azul. Colocaram fita dourada em volta da árvore, ataram
grandes laços vermelhos aos ramos, e penduraram estrelas e luas em papel prateado nas
agulhas do pinheiro.
— Lucy — disse o pai — eu seguro em ti enquanto colocas a Rainha das Fadas no topo.
Não te esqueças de pedir um desejo.
Lucy fechou os olhos e formulou o desejo.
— O que é que pediste? — perguntou o pai.
— É segredo — respondeu Lucy. — Se o contarmos, não se realiza.
Na Noite de Natal, Lucy não conseguia adormecer.
— Por que não consegues dormir? — perguntou Frances.
— Estou triste — respondeu Lucy.
— Como é que podes estar triste na Noite de Natal?
— Estou triste porque o meu desejo não se realizou. Mesmo tendo-o pedido três vezes.
— O que pediste? — perguntou Frances.
— Uma patetice de que não quero falar — disse Lucy, enfiando a cara na almofada.
— Bom, dorme agora — disse Frances. — Amanhã é Dia de Natal e vais ficar contente.
Lucy pensou no seu desejo. Talvez tivesse realmente sido uma patetice ter pedido que o jardim, que estava cheio de folhas caídas, árvores despidas e terra escura, ficasse bonito outra vez. Lucy sabia que as folhas e as flores renasciam na Primavera, mas parecia-lhe
injusto que, quando tudo dentro das casas estava bonito e brilhante, o jardim se encontrasse tão cinzento e despido.
— Vou tentar de novo. Só mais uma vez.
Fechou os olhos e formulou um desejo. Depois adormeceu.
Na manhã seguinte, Frances foi a primeira a acordar.
— Lucy — sussurrou. — Acorda! Vamos ver o que temos nas meias.
Lucy acordou e foram ambas comer as sultanas, as nozes, e as uvas passas que alguém
pusera nas suas meias de Natal durante a noite.
— O sol está muito forte. Até podemos vê-lo com as cortinas fechadas. Que claridade!
— Vamos abri-las. Puxa aquela, que eu puxo esta — sugeriu Lucy.
As cortinas abriram-se.
— Olha! — sussurrou Lucy. — Oh, Frances, o meu desejo realizou-se durante a noite.
O jardim brilhava à luz do sol. A neve cobria totalmente cada ramo e cada pedacinho de erva, cada telhado e cada parapeito. Também cobria a terra preta e as sebes verdes. A janela do quarto das duas irmãs tinha gelo em redor de cada painel de vidro, como se fosseuma moldura de flores brancas.
 — Que lindo! — exclamou Lucy. — Nunca pensei que fosse tão bonito.
— Foi este o teu desejo? — perguntou Frances. — Pediste neve?
— Não sabia que tinha pedido, mas devo tê-lo feito.
— O que fizeste exactamente?
— Fechei os olhos e disse: “Desejo que o jardim fique decorado no Natal.”
— E está — anuiu Frances. — Vamos chamar os nossos pais.
Correram para o quarto dos pais.
— Acordem! — chamou Lucy. — É Dia de Natal e o meu desejo realizou-se!


Adèle Geras
Sally Grindley (org.)
Christmas stories
London, Kingfisher, 1994
(Tradução e adaptação)




Sem comentários:

Enviar um comentário